sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Yeda ataca FAG

A Federação Anarquista Gaúcha envia a seguinte nota:

Neste exato momento a Polícia Civil do Rio Grande do Sul sob o comando da governadora Yeda Crusius promove diligência na sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG). O mandado de segurança do governo busca apreender material de propaganda política contra o governo acusado de corrupção. Os cartazes abordam o empréstimo junto ao Banco Mundial e o assassinato do sem-terra Elton Brum. Este ato é pura provocação do Executivo gaúcho, atravessado por atos de corrupção e situações até hoje sem explicação, como a morte de Marcelo Cavalcante em fevereiro desse ano. Conclamamos as forças vivas da esquerda gaúcha para reagirmos de forma unificada contra mais esse desmando.

Segundo o mesmo relato, militantes da Federação Anarquista foram encaminhados, agora à tarde, para depor na 17 Delegacia de Polícia, localizada na rua Voluntários da Pátria, 1500, perto da Rodoviária de Porto Alegre. A Polícia apreendeu material impresso, chapas de cartazes e inclusive a CPU do computador da sede.

Conversei por telefone com Cândida, militante da Federação Anarquista, e ela me deu o seguinte relato. A Polícia entrou na sede da Federação (na rua Lopo Gonçalves, Cidade Baixa), hoje à tarde, munida de um mandado de busca e apreensão para recolher material de propaganda contra a governadora Yeda Crusius, que decidiu mover uma ação por injúria, calúnia e difamação. A ação teria sido motivada por cartazes onde a governadora é responsabilizada pelo assassinato do sem terra Elton Brum da Silva. Além dos cartazes, segundo Cândida, foram apreendidos outros materiais e documentos que não tem relação com esse caso. Também foi cumprido um mandado de busca e apreensão em Gravataí, em um endereço que aparece no site da entidade. Há dois advogados acompanhando os integrantes da Federação.

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Santiago ministra curso de "Introdução ao desenho de imprensa"

O curso ministrado pelo desenhista Santiago foi adiado para novembro. Mais informações no site da pucrs.

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sábado, 19 de setembro de 2009

Pichações políticas em Porto Alegre



"O Objetivo é passar uma informação que não aparece na grande mídia corporativa"

Leia a reportagem sobre pichação política aqui

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Uma madrugada pichando ruas

Felipe Baierle
Lá pelas duas e meia da matina, passando em frente a uma revenda de carros na esquina da João Pessoa com a Ipiranga, o alarme: “vem vindo um carro da polícia. Rápido, joga fora!”.

Ao contrário dos últimos tempos, naquela madrugada não estava frio. Acho que fazia uns 15°.

As ruas vazias pareciam não pertencer à mesma cidade que durante o dia se exibe barulhenta e movimentada. Não havia cheiro de fumaça nem barulho de busina.

Só não se podia chamar de “uma madrugada tranqüila” porque a cada momento passava um táxi perigosamente devagar, como se soubesse o que o grupo fazia.

– Os taxistas têm um convênio de cooperação anti-pichação com a prefeitura. Qualquer coisa que eles veem, automaticamente eles já ligam pro disk-pichação. Então, uma das orientações mais importantes de segurança é fugir dos taxistas – advertiu alguém que vou chamar de “companheiro”.

Enquanto falava, o cara de vinte e poucos anos, olhar seguro e barba ao estilo Che Guevara ia terminando um estêncil que seria colocado nas paredes da capital. Pra quem não sabe, estêncil é um molde que serve para pichar rapidamente uma figura em um muro, camisa ou outras superfícies.

Em Porto Alegre, podem ser observados vários estênceis, cartazes e grafites feitos pelo mesmo grupo a que me refiro nessa reportagem. Foram eles que colocaram nas ruas as reivindicações que dizem “pixe y lute!”, “somos todos sem terra”, “o latifúndio esgota nossa água”, “agro-negócio, cultura da fome”, “torturador” e também o polêmico mural em uma parede da UFRGS “pra que(m) serve o teu conhecimento?”.

– A nossa prática de agitação e propaganda é sempre estar passando uma mensagem que não aparece na mídia corporativa. E a maneira mais efetiva de a gente estar fazendo isso continua sendo as ruas – explicou o “companheiro”.

E, para que eu entendesse melhor o que os move, o “companheiro” contou ainda uma história sobre o escritor Eduardo Galeano.

– O Galeano mesmo disse numa entrevista, quando perguntaram pra ele se ele lia muito: ‘sim, mas não livros, leio mais paredes’. Inclusive, ele comentou que certa vez leu numa parede uma coisa que achou muito bonita. Dizia assim: ‘mijam em nós e os jornais dizem que é chuva’.

Pensando nisso, perguntei para um baixinho muito simpático, por que valia a pena se arriscar para colocar aquele material nas ruas.

– Porque acreditamos num projeto de transformação social. E também por que é a partir dessas práticas de ação direta que a gente vai conseguir demonstrar que o sistema que está colocado não está resolvendo problema socioeconômico algum - contou.

Havia 18 pessoas na casa que serviu de quartel general pro grupo. Entre meia noite e duas horas da manhã, a tarefa deles era terminar os estenceis que seriam usados na ação da madrugada.

Pelas ruas
Pouco antes das duas horas, o trabalho de conclusão das chapas estava terminado. Faltava botar o material nas ruas.

Divididos em pequenos grupos de três a quatro pessoas, as rotas seguidas foram pela Osvaldo Aranha, João Pessoa (o grupo ao qual segui como observador), Centro e Cidade Baixa. Logo de saída, a moça e os dois cabeludos que eu seguia decidiram fazer um estêncil em uma parede próxima ao “Bar do Antônio”, na João Pessoa.

“A saída pra crise é a luta do povo”, estava escrito no material que segundo eles, era uma maneira de alertar que a crise dos pobres não acabou, ao contrário do que dizem nos jornais. Para chegar até essa frase, o Coletivo se reuniu e discutiu a crise econômica mundial. A conclusão alcançada por eles é que a verdadeira crise não acabou, pois essa é a crise do povo. Acrise de pais e mães que não tem como alimentar seus filhos.

Perigo
Mas como eu dizia, eles estavam pichando. Com a lata de spray vermelho pintaram a primeira parte, que eram bonequinhos com os punhos cerrados. O trabalho foi interrompido no meio pelo medo de um táxi que passava vagarosamente pela João. Se foi. Era hora de pichar a outra parte do material, essa com spray preto.

Ao todo, eles levaram exatamente 54 intermináveis segundos para terminar o picho. Intermináveis porque eu estava com medo de ir em cana junto com o grupo se eles fossem pegos. Afinal, quem acreditaria na minha história (verdadeira) de que eu era um repórter e não estava pichando nada?

Sem falar que pichação é crime inafiançável, com detenção de três meses a um ano e multa. Quem for pego vai direto pro xilindró.

Com o tempo, a velocidade em fazer os estenceis foi aumentando. A moça ficava com os sprays e os outros dois rapazes cabeludos, cada um com um molde. Ás vezes, eles trocavam de funções.

Susto
Na esquina com a Ipiranga, em frente a uma revenda de automóveis veio um dos momentos mais nervosos. Um dos rapazes olhou pra trás e disse “vem vindo um carro da polícia. Rápido, joga fora!”. Ficaram atarantados, sem saber onde esconder os moldes. Se fossem pegos, os materiais serviriam como prova para o flagrante e aí nem um bom advogado resolveria. Um estêncil foi parar dentro de uma dessas latas de lixo laranjas que tem por todo o centro e outro perto da vitrine da revenda, no chão. O som do carro em aproximação fez todos andarem em silêncio, morrendo de medo.

Quando o carro passou pelo grupo, ficou evidenciado o alarme falso. Era um desses veículos com espaço para bagagem sobre o teto. As hastes de metal foram confundidas com sirenes apagadas, como a Brigada costuma andar para surpreender possíveis criminosos.
Passando o Palácio da Polícia e a revenda de carros de luxo, os três pichadores seguiram ainda pela João Pessoa. Por onde estiveram, ficou um rastro de coragem e consciência pichado em tinta vermelha e preta.

Breve história do picho

Antiguidade
Registros revelam que a pichação já era praticada na antiguidade em grandes cidades como Pompéia. Ainda hoje, pesquisadores usam esses registros para estudar a rotina e costumes dessas sociedades antigas.

Anos 60, 70 e 80
Na Europa, a pichação nasceu como forma de protesto de pessoas que não estavam de acordo com as injustiças sociais da época. Muito utilizada por anarquistas e comunistas, a pichação ocupou espaços urbanos antes abandonados como ruas e prédios.

Ditadura brasileira
Durante o regime militar iniciado em 1964, a pichação deu seus primeiros passos por aqui.

Com a liberdade de expressão e direitos democráticos suprimidos, uma das únicas formas de protestar era o “abaixo a ditadura” pichado quase sempre por adolescentes do movimento estudantil em muros e ruas.

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Juremir Machado analisa o governo Yeda

Felipe Baierle
O Parcial deste mês foi buscar a polêmica de Juremir Machado. O colunista do Correio do Povo, professor universitário, pesquisador, jornalista e historiador, nos brinda com uma breve análise das últimas crises no Palácio Piratini.

Felipe Lembrando das recentes denúncias de corrupção que o Ministério Público Federal (MPF) fez contra a governadora Yeda Crusius (PSDB), o senhor acha que ela chega até o final do mandato ou que se candidate à reeleição no ano que vem?

Juremir – Eu acredito que chegue. Os processos judiciais são longos. Agora, acho que politicamente, é bem difícil que a governadora possa se candidatar e concorrer novamente. Quem sabe até se candidate, mas suas possibilidades de reeleição são nulas.

O governo está muito desgastado. É uma sucessão de escândalos, de criticas, de confrontos. O julgamento político me parece quase concluído.

Felipe – E essa CPI da corrupção, tem sentido mesmo depois das denúncias do MPF?

Juremir – Eu acho que não teria como fazer um Impeachment sem passar pela CPI. A CPI é um processo invesigatório, um processo analítico, de discussão.

Desse resultado, que tecnicamente pode dar no envio de uma denúncia ao MP que poderá ser então transformada depois em um processo jurídico, há também a possibilidade de pedir o Impeachment. Eu não vejo como pular a etapa da CPI direto para o Impeachment. Uma coisa leva a outra.

Felipe – Não fica redundante?

Juremir – Eu acho que não. Pode ser até que tecnicamente não seja assim. Mas eu vejo a CPI como processo de investigação e discussão que quando concluído diz assim: vamos encaminhar para o Ministério Público a parte jurídica e politicamente vamos pedir o Impeachment, ou não.

Felipe – O governo tem uma boa política para a educação?

Juremir – Eu não acho que seja uma boa política de educação. Acho que é uma parte bastante frágil do governo. E se estabeleceu essa ideia de que o magistério estadual é um tanto improdutivo e que precisaria ser reformado completamente, como se o magistério estadual fosse o culpado dos problemas do Rio Grande do Sul.

Eu não acredito que o governo tenha feito uma boa política em relação ao magistério. Estabeleceu-se um confronto. Mas não só pelo confronto, (o governo) tem tentado desqualificar o magistério estadual. Os professores ganham pouco, trabalham muito, precisam de mais formação, de mais salário: fazem o que podem.

Felipe – O que o senhor pensa sobre a possibilidade de prisão da presidente do CPERS Rejane Oliveira, da vice-presidente Neida de Oliveira e da vereadora Fernanda Melchionna depois daquele ato em frente à casa da governadora?

Juremir – Isso é despropositado. Isso é uma retaliação, uma atitude intimidatória. Claro que pode ter tido alguns excessos ali, mas não houve cárcere privado nenhum. Houve uma manifestação estrepitosa diante de uma casa que é objeto de controvérsia. Não é punindo essas pessoas que vai se resolver o problema dos escândalos no Rio Grande do Sul.

Felipe – Nessa manifestação o CPERS levou uma miniatura de escola de lata que o governo vem usando. O senhor aceitaria dar aula em uma escola de lata?

Juremir – Olha, se fosse preciso. Não é o lugar adequado para dar aula, imagino que ninguém goste de fazer isso. Mas o professor, tentando exercer a sua atividade pra ganhar sua vida e para atender o interesse dos alunos pode dar aula em qualquer lugar.

Eu estudei em escola rural. E estudando em escola rural, sei lá, dão aula em baixo de uma árvore se for o caso. O problema da escola de lata é a falta de planejamento do governo para que esse tipo de coisa não exista.

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Lei de adoção apresenta limitações

Caroline Berbick
Sancionada no dia 3 de agosto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a nova lei deve agilizar o processo de adoção, mas problemas como a superlotação de abrigos e a falta de apoio à família ainda aguardam soluções.

Atualmente, 80 mil crianças e adolescentes brasileiros vivem em abrigos de acolhimento. Em Porto Alegre, os números são de 81 abrigos para 1.695 ocupantes - a maioria vítima de abandono ou maus tratos. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o abrigo é uma medida de proteção que deve durar o menor tempo possível para não ferir o direito da criança/adolescente ao convívio familiar.

Trata-se de uma situação passageira que tem como um de seus objetivos refortalecer o vínculo familiar. Porém, uma série de fatores impedem essa transitoriedade e contribuem para a lotação das casas de acolhimento.

Muitas famílias não têm condições de receber os menores de volta, por estarem em situação vulnerável e por não receberem o apoio adequado para necessidades básicas como saúde, habitação e geração de renda. Somado a isso está o número reduzido de adoções de grupos de irmãos, de adolescentes e de crianças possuidoras de síndromes ou deficiências. A lentidão dos processos judiciais e o aumento do número de crianças em abandono, principalmente em função do crescimento do uso de crack, também contribuem para o agravamento da situação.

Despreparados para o grande número de crianças encaminhadas, os abrigos de Porto Alegre chegam a atender um número três vezes maior de crianças e adolescentes do que a capacidade inicial, têm pouco investimento do poder público e apresentam condições defasadas, conforme afirma a assistente social, Elisa Benedetto.

Novas regras
A nova Lei de Adoção, que deve entrar em vigor 90 dias depois de ter sido sancionada, procura soluções para esses antigos problemas. Uma das medidas estabelece que o tempo de permanência do menor no abrigo não pode passar de dois anos. Além disso, deve ser feito um relatório semestral para analisar as condições de retorno à família ou a possibilidade de adoção. A adoção pela família extensa - que se trata de tios, primos, avós - será priorizada.

A lei também cria um cadastro de crianças e adolescentes aptos para adoção e determina que todos que desejam ser pais substitutos devem fazer parte do cadastro de candidatos. Só não precisarão se cadastrar os parentes que já têm afinidade com a criança ou uma família que já tem tutela. Os candidatos a pais passarão por avaliação psicossocial e jurídica e terão um estágio de 30 dias de convivência com o menor antes da adoção.

Maiores de 18 anos, mesmo solteiros, podem adotar. A única exigência é que a diferença de idade entre a criança e o responsável substituto seja de pelo menos 16 anos. A medida que regulamenta a adoção por casais tem provocado polêmica. Ela estabelece que somente casais com contrato de união estável ou união civil estão aptos a adotar, o que exclui casais homoafetivos, que não têm união legal reconhecida pelo país.

A Procuradora de Justiça do Ministério Público do RS, Maria Regina Fay de Azambuja contrapõe: “A lei não veda a adoção por homossexuais. Apenas não traz um dispositivo expresso afirmativo, mas ela não nega. Isso não é empecilho para a adoção”. Ela diz ainda que qualquer pessoa, independente da orientação sexual, está apta a adotar desde que passe pelo processo de habilitação.

Colocando em prática
A nova lei impõe prazos para os processos judiciários e diminui a burocracia. Tais medidas têm potencial para agilizar o seguimento da adoção, mas não resolvem o problema de lotação dos abrigos e do aumento do número de crianças em estado de abandono. Para a procuradora Maria Regina, o ideal é intensificar os programas de assistência às famílias, com atendimento intensivo e visitas domiciliares. A nova lei reforça a responsabilidade do Estado em chegar à família antes que o problema fique crônico e que o abandono se torne inevitável: “É um desafio enorme, mas nós temos 20 anos de constituição e já estava na hora de assumi-lo. Se cumprirmos essa diretriz da lei, vamos gastar menos do que se gasta depois com uma criança ou adolescente que fica num abrigo até os 18 anos e sai de lá com muitas carências, muita dificuldade de enfrentar a vida”, afirma a promotora.

Em Porto Alegre, das 1.695 crianças/adolescentes que vivem em abrigos, 816 têm mais de 10 anos. Sem terem os processos judiciais concluídos para estabelecer se voltam para a família ou se vão para a adoção, às vezes acabam ficando no abrigo até completar 18 anos de idade.

A permanência exagerada nos abrigos também acontece com os adolescentes aptos para adoção. A grande maioria dos brasileiros que desejam adotar prefere crianças de até três anos de idade. Com a maioridade atingida, os adolescentes recebem algum apoio do Estado para morar com grupos de jovens ou conseguir um emprego. Muitas vezes, sem alternativas, acabam voltando para a família.

O grupo de crianças ou adolescentes que possuem particularidades como o vírus HIV, deficiência ou síndrome, representa 77,29% dos aptos para adoção em Porto Alegre. Porém, das 75 adoções efetuadas na capital desde o início deste ano, apenas 10 foram de crianças possuidoras destas características, segundo o site do Juizado Regional da Infância e Juventude de Porto Alegre. Frente a essa fragilidade, o Juiz José Antônio Daltoé Cezar, da Vara da Infância e Juventude de Porto Alegre, admite: “A lei não tem solução para todos os casos”.

Além de ter a efetividade limitada, a lei depende principalmente da boa vontade do poder judiciário para ser colocada em prática, como lembra a procuradora Maria Regina Fay de Azambuja: “Fazer com que essa lei provoque essa mudança, que a gente assimile a mudança e lute pela implementação que é o desafio maior. Nós temos a tendência de deixar as coisas como estão porque dá trabalho, porque tem que pensar em coisas que ainda não foram pensadas”.

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Um grito pela liberdade

Carolina Marquis
Trabalhadores, desempregados, estudantes, militantes e curiosos se reuniram em frente ao Palácio Piratini para levantar suas bandeiras. O vermelho do PT (Partido dos Trabalhadores) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores), o amarelo do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e do CPERS e o colorido do CTB (Central do Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), entre tantas outras cores e gritos povoavam a rua Duque de Caxias, junto à Catedral Metropolitana de Porto Alegre.

Entretanto, não eram os dizeres que recheavam as faixas o que mais impressionavam, e sim o rosto de cada uma das pessoas que estava no lugar. Naquele dia ensolarado de verão fora de época, às 11 horas da manhã, cada rosto, cada grito, cada desespero individual que se traduzia no coletivo eram as mais expressivas e diversas bandeiras que se viam.

Cerca de 3 mil pessoas das mais diversas regiões do estado e capital marcharam escoltados por um forte aparato policial. Os manifestantes carregaram nove bonecos algemados entre si e feitos em medidas reais. Eles representavam os nove indiciados pelo MPF.

O povo pedia por mudança. Todos diziam um uníssono NÃO às demissões em massa realizados em detrimento da crise econômica mundial que assola os cinco continentes, 80 anos depois da Grande Depressão de 1929. “A crise é dos ricos, mas os pobres é que se fodem”, diziam manifestantes indignados pela forma como o capitalismo se manifesta: prejudicando àqueles que nunca nada tiveram.

A Comunidade Autônoma Utopia e Luta teatralizou o dia-a-dia dos trabalhadores em todo o mundo: muita labuta, muito esforço, muita força direcionada e nenhuma recompensa ou direitos atendidos. Uma cena real a que todos assistimos.

Redução dos juros; fim do superávit primário; redução da jornada de trabalho sem implicações nos salários e direitos do trabalhador; saúde, educação e moradia eram alguns dos pontos que os manifestantes exigiam em cartazes. Entre tantas exigências diferentes, o que mais se fazia notar e era a causa comum: a reivindicação pelo impeachment da governadora do estado Yeda Crusius e do vice-governador Paulo Feijó, além de eleições imediatas.

O movimento foi organizado pela Assembléia Popular, Movimento Sem Terra (MST), Via Campesina, CTB, CUT, Intersindical, Conlutas, Movimento Estudantil, Pastorais Sociais, Consulta Popular, Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Fórum dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul, Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Movimento dos Trabalhadores desempregados (MTD) e gabinete do deputado Adão Villaverde.

“Quem tu colocarias no lugar da Yeda?”, perguntava um teatral integrante do Levante Popular da Juventude. A abordagem não era esperada e as pessoas respondiam com silêncio, sorrisos curiosos ou envergonhados, quando, talvez, não tivessem a resposta. A vontade de mudança quiçá se faça suficiente em um primeiro momento. Depois deve chegar o ponto em que os pensamentos se tornam palavras e a (re)ação seja o próximo passo. Era isso que os manifestantes do Dia Nacional da Luta tentavam fazer naquela manhã. Reuniram-se para juntar forças, para gritar jutos, traduzir em cartazes o que hoje é a vontade das pessoas: os esclarecimentos, a honestidade, o impeachment.

Alguns dos cartazes que diziam “Fora Yeda” foram recolhidos e proibidos de circular pela cidade. “Essa é uma manifestação para tirar a governadora do poder”, gritava Rejane de Oliveira, presidente do CPERS. “Que seja feita a vossa vontade”, respondia timidamente um vendedor de água que passava pelo ato.

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Editorial-setembro

Democracia vem da palavra grega “demos” que significa povo. Nas democracias, é o povo quem detém o poder soberano. Isso, teoricamente, pois o que estamos vivenciando é um sistema que só vem distorcendo esse conceito, que protege os que detêm a propriedade e o capital e suprime as idéias e as mobilizações dos trabalhadores.

Um sistema político-econômico cheio de contradições, o qual explora os que se organizam para reivindicar seus direitos e que impõe uma cultura de consumismo e de alienação.

O grupo de agitação e propaganda acompanhado por nosso jornalista faz refletir o quanto temos que lutar para que nossas vozes sejam ouvidas, para que outros saibam o que está realmente acontecendo em nossa sociedade, já que a grande mídia não o faz.
Que democracia é essa em que temos que nos esconder? Que democracia é essa que mata quem luta por seus direitos, como no assassinato do Sem Terra Elton Brum da Silva?

Essa dita “democracia” não é a democracia do povo, da massa popular, dos trabalhadores que vêm sendo explorados cada vez mais, com salários baixos e péssimas condições de trabalho, dos milhares de desempregados e excluídos desse país. Essa é a “democracia” dos que detêm o poder econômico e político da sociedade. Dos que autorizam ações truculentas aos que se organizam pacificamente. É uma democracia da enganação, com falsos plebiscitos; com uso de armas de fogo contra o povo desarmado, e da criminalização dos movimentos sociais.

A expressão popular sempre foi criminalizada, pois sabe-se que é essa expressão - a voz do povo - que transformará a nossa sociedade tão corrupta e antidemocrática. Por isso companheiros, não desistam. Lutem, gritem, não se calem diante das injustiças dessa falsa democracia. Façam valer o sacrifício de tantos mortos injustamente. Continuem na luta por um mundo melhor. Mostrem a eles que a democracia será instalada em nossa sociedade, somente, quando o povo tomar o poder.

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Violência e sangue no pós-guerra

Leila García
Tiros, bombas, sequestros, assassinatos e sangue tingiram a história do mundo e a trajetória da extrema-esquerda alemã no final da década de 60. Protestos juvenis por justiça e paz transformaram-se em ações armadas. Um grupo em especial causou o terror em escala internacional, a Fração do Exército Vermelho (RAF). O terrorismo na Alemanha Ocidental ganhou diversas versões para o cinema, foi retratado nas artes plásticas e na moda, sendo um marco na história, memória e imaginário do povo alemão.

Em 2008, a RAF ganhou nova representação para o cinema, indicado ao Oscar de 2009, chega aos telões brasileiros “O Grupo Baader-Meinhof” (Der Baader Meinhof Komplex), do diretor Uli Edel. O filme adaptado do livro homônimo, do jornalista Stefen Aust é uma ficção, logo, é natural esperar ver um lado mais humano, que possa sensibilizar o público. O longa-metragem tenta se aproximar ao máximo da realidade sem criar heróis ou vilões. Aust, em entrevista a agência de notícias alemã Deutsche Welle demonstra satisfação com o resultado, ele que conviveu de perto com membros do grupo, ressalta a importância de lembrar que “terrorismo é terrorismo e as pessoas às vezes se esquecem disso”.

A atração em torno do grupo se dá porque a sua luta contra um sistema opressor tinha motivações políticas e ideológicas ao mesmo tempo em que adotava medidas cruéis como forma de ação. A sufocação política, social e cultural era a realidade nos países industrializados, a chamada “sociedade do conformismo”. A ocupação militar de bases alemãs por tropas americanas, inglesas e francesas foi mais um agravante para os protestos populares, pois, representavam pontos estratégicos na guerra do Vietnã. O clima mundial era de revoltas armadas nos países latinos e conflitos no Oriente Médio.

Grupo Baader-Meinhof
A trajetória do grupo terrorista RAF é trazida através de cenas entrecortadas da realidade de seus membros e de acontecimentos na Alemanha Ocidental e no mundo. O assassinato do manifestante Benno Ohnesorg na visita do líder iraniano a Berlim, motiva um primeiro ato violento. Enquanto Ulrike Meinhof (Martina Gedeck) discursava em canais abertos contra ações do governo e da mídia, Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek) e Andreas Baader (Moritz Bleibtreu) passavam dos protestos ao planejamento de atentados e fabricação de bombas. Baader, Ensslin e Meinhof foram os mentores da RAF seguindo o princípio de que “falar sem agir é errado”.

Panorama mundial
Acontecimentos de ordem mundial, como os assassinatos de Che Guevara e Martin Luther King situam o expectador temporalmente. De modo sequencial atos como o atentado nas Olímpiadas de Munique e ataques a regimentos de soldados norte-americanos demonstram as ações do grupo. Da defesa das causas libertárias, o grupo passa ao revide como solução, até o ponto em que lutam apenas por si próprios. Foi após a morte e prisão dos principais líderes que a segunda e terceira geração da RAF manteve o maior embate contra o governo, atos comandados pelas lideranças presas marcaram o chamado “Outono Alemão”. Foi nesse momento que a última tentativa de libertação dos líderes fracassou, o sequestro de um avião da Lufthansa junto a um grupo palestino foi detido pela policia alemã e a existência do grupo caiu na incerteza, tal como já estavam seus ideais.

Mídia
O filme utiliza as imagens e vozes da mídia na época como cortina de fundo. A mídia que é o alvo das críticas e de atentados, é também fomentadora das ações. A televisão leva a guerra para dentro dos lares criando uma tensão entre a população. Pelo mesmo meio de comunicação Meinhof ganha voz e dá base ao posicionamento de Ensslin. Em contraponto, estimula o ódio dos reacionários, como no caso do atentado contra o líder estudantil Rudi Dutschke, fato que motivou Meinhof a ingressar na luta armada. É também a mídia quem intitula o grupo como Baader-Meinhof. Para o professor de história da Ufrgs, Luis Dario Ribeiro, “a mídia demonizava e ao mesmo tempo espetacularizava o grupo para ter assunto e atender seus objetivos”.

Um sistema de vigilância e de controle do governo determinou a caçada aos terroristas. A RAF criou uma situação de guerra civil em que o terror e o medo estavam dentro e fora do grupo. “A população, mais do que aceitar, tinha medo. Um medo estimulado pelas campanhas proporcionadas pelo Estado e pelos meios de comunicação”, argumenta Ribeiro. Já Aust, o autor do livro, expõe que os membros do grupo perderam a visão da realidade, ao pensar que viviam num estado policial fascista. Ribeiro complementa que o grupo sempre foi tratado como uma quadrilha criminosa, “no máximo, a parte da população que não era contra via nas vítimas das ações pessoas comprometidas com o passado e estimuladoras da situação”.

Crítica
A crítica do cinema alemão enfatiza que mais uma vez, o foco do filme está nas personagens da RAF e não nas suas vítimas, que seria também a sociedade. Baader (2002) de Christopher Roth remonta a vida de Andreas Baader. Stammein (1985), de Reinhard Hauff, reconstrói o julgamento dos líderes do grupo. A personalidade de Gurum Esslin é descrita em O Tempo de Chumbo (Die bleierne Zeir, 1981), de Margarethe Von Trotta. Já os efeitos do terrorismo na sociedade aparecem através dos filmes do diretor Volker Schlöndorff, como Alemanha no Outono (Deutschaland im Herbst, 1978) e A Honra Perdida de Katharina Blum (Die verlorene Ehre der Katharine Blum, 1975).

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As curiosidades da democracia chilena

Cristina Hinostroza
Durante os últimos dias no Chile vive-se um processo de campanha eleitoral presidencial e, como é de se imaginar as máquinas políticas estão convertidas em uma guerra sem tréguas.

Isso significa que os grandes grupos econômicos que apóiam os setores com a “Frente de Partidos pela Democracia” (setor progressista) têm presidido o país desde a volta da democracia. Significa que nas quatro últimas trocas de presidentes da república se ampliou a maioria da “Aliança pelo Chile” (direita) em ambas as câmaras e que nas duas últimas eleições tem aumentado seu apoio popular causando segundos turnos nas eleições presidenciais de Ricardo Lagos e Michelle Bachelet.

Sistema binomial
Por outro lado, existem outros três candidatos correndo por fora. Um deles é Jorge Arrate do “Juntos Podemos Mais”, que aglutina o Partido Comunista, Esquerda Cristiana e movimentos de esquerda extra-parlamentarista que permanecem à margem da política chilena em função sistema binomial implantado por Pinochet que exclui os partidos políticos pequenos do sistema eleitoral.

Tal sistema impossibilita ao país ter uma verdadeira democracia onde todos possam participar livremente e onde os cidadãos possam votar também de forma livre no candidato apto a trabalhar pelo país. Infelizmente isso é impossível, por vivermos em um país onde existe uma democracia representativa na qual os partidos apresentam seus candidatos e as pessoas devem decidir pelo menos ruim. Assim perde-se o poder popular pelo qual tanto se lutou durante a ditadura militar e que os acordos foram debilitando paulatinamente.

Retrocesso
Desata-se então, uma batalha campal entre estes dois grupos que possuem a maioria nas votações populares. A direita vem dirigindo a presidência da Câmara de Senadores e isto chegou a possibilitar a mudança de leis importantes como o são a “lei do aborto” e da “pílula anticoncepcional”. Estas situações estão sendo provocadas especialmente pela má gestão do governo, sobretudo no que diz respeito à propinas, fraudes fiscais e roubos, situações das quais a direita tem tirado enormes benefícios.

Existe também um racha dentro do mesmo acordo que escolhe os candidatos à presidência e é por isso que têm aparecido novos candidatos que não querem fazer parte da escolha do candidato oficial do acordo Eduardo Frei Ruiz-Tagle, ex-presidente da república no período de 1994-98. É por essa razão que aparecem três pré-candidatos vindos de dentro do acordo. Dois deles representam suas renúncias aos respectivos partidos e por sua vez têm formado novos partidos e movimentos como no caso do Amplo Movimento Social do senador e candidato Alejandro Navarro e o partido Regionalista do senador Adolfo Saldivar.

Populismo
Estas situações demonstram por si próprias que o acordo está debilitado por seus contínuos erros em quanto aqueles que vêm dirigindo o país, desde o suposto retorno da democracia e, como as mesmas pessoas estão em cargos públicos desde 1991, com o governo de Patricio Aylwin.

E em sua oportunidade, a direita tem se encarregado de limpar sua imagem mudando suas consignas de “Ex-Partido Nacional” agora chamado de “União Democrática Independente” ou “o partido popular”, que de popular não tem nada, já que são sempre detratores do governo da Unidade Popular e os fiéis representantes do governo militar de Augusto Pinochet.

De popular têm isso que chamamos de assistencialismo e de soluções que só remendam os problemas da pobreza e da vulnerabilidade sem realmente resolvê-los.

Educação
Sabe-se que um dos grandes problemas por que passa o Chile é a educação, que atualmente está sendo privatizada quase em sua totalidade, assim o estado se desliga completamente de um problema que arrastamos desde a ditadura de Pinochet e de suas leis retrógradas como foi a “Lei Orgânica Constitucional de Educação”, que permite a municipalização da educação bem como sua privatização massiva.

Por estes dias se aprovou uma reforma a esta lei pela qual estudantes chilenos permaneceram em mobilizações durante meses e ocuparam escolas durante 2006 e 2008. Esta lei foi uma rasteira nos estudantes e no magistério já que permite maior privatização, mas maior regulação aos donos de estabelecimentos educaionais: mais lucro, só que regulado pelo estado. Em outras palavras, o acordo terminou por converter a educação chilena em uma mercadoria com valor e regulação de mercado.

Honduras e Chile
A democracia no Chile é curiosa e extremamente subjetiva, especialmente tendo se ouvido a presidente que deu um apoio contundente ao presidente Manuel Zelaya, que visitou o país há alguns dias. A presidente aborreceu o golpe de estado em Honduras e deslegitimou o governo de fato de Micheletti alegando que este é antidemocrático. Mas se falarmos de democracia, primeiro temos que observar o que ocorre em nosso país, onde se acaba de aprovar uma lei que criminaliza os movimentos sociais e responsabiliza os organizadores de mobilizações e os movimentos e proíbe-os de usar máscaras e capuzes para não serem identificados.

Estas são as contradições pelas quais atravessa o Chile nesses dias; um país que ainda não conseguiu mudar a constituição herdada de Augusto Pinochet, que ainda mantém excluídos da política a esquerda e ademais existam 2 milhões de jovens aos quais não interessa inscrever-se nos registros eleitorais - já que não se sentem representados pela classe dirigente do país.

Isso nos demonstra que a democracia no Chile é uma utopia a seguir sendo perseguida assim como a luta contra o sistema político-econômico neoliberal que proíbe a participação cidadã e nega direitos fundamentais como “o direito a livre expressão”. “direito a liberdade” ou “que toda pessoa tem direito a participar do governo de seu país”.

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Lei protege animais de rua

Leila García
Cães e gatos abandonados não têm mais como destino certo o sacrifício. Desde julho vigora no Estado a nova lei sobre o controle de animais de rua. De autoria do deputado Carlos Gomes (PPS), a lei propõe uma mudança radical no tratamento dado aos animais por parte dos órgãos públicos e da sociedade.

O abandono dos animais domésticos deve ser visto além do pesar. Mais que um problema de saúde pública, trata-se de uma questão ambiental e social. Tidos como foco de doença, os animais soltos nas ruas são ignorados enquanto fauna do ambiente urbano e têm suas vidas banalizadas através de agressões e desamparo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no Brasil existam cerca de 25 milhões de cães e quatro milhões de gatos abandonados. Com base nesses dados o Centro de Zoonoses de Porto Alegre (CCZ) contabiliza 300 mil cães soltos na cidade. Contudo, observa que em sua maioria esses animais, mesmo nas ruas, são tutelados. Assim, estão classificados como cães com proprietário parcialmente restritos, porque possuem dono, abrigo e alimento, mas saem às ruas sem restrições. Os cães comunitários não têm proprietários definidos, mas, recebem auxílio de diversas pessoas.

De acordo com a Coordenadoria Multidisciplinar de Políticas Públicas para Animais Domésticos de Porto Alegre, ligada ao gabinete do vice-prefeito, a quantidade de animais soltos é um mistério devido à diversidade de teorias utilizadas para calcular e fornecer essas estatísticas. Dentro desse contexto está a cultura da violência. Afogar ou sufocar ninhadas de gatos e soltar cães nas rodovias são formas utilizadas pela população para eliminar o problema. “A questão dos animais é uma semente de violência que está sendo introjetada dentro das casas e não dá manchete”, enfatiza Maria Luiza Nunes membro da Coordenadoria.

Criada a partir da verificação da concentração de animais soltos e enfermos nas grandes vilas, a nova lei foi elaborada em parceria com ONGs, associações protetoras de animais e o Conselho Regional de Medicina Veterinária. Ao contrário do que afirma o deputado, o CCZ de Porto Alegre garante que não foi consultado, e que as tentativas de contato para adequação da lei e demais reivindicações não foram atendidas.

A nova postura do Estado proíbe a eutanásia em animais sadios nos CCZs, canis públicos e estabelecimentos oficiais côngeneres, e define a esterilização cirúrgica como modo de controle. Além de propor a proteção desses animais, através da identificação e registro, a lei incentiva a conscientização das pessoas quanto à posse responsável. Antes da lei o CCZ de Porto Alegre retirava das ruas cerca de 80 cães por mês, priorizando sempre os agressores, doentes, atropelados e politraumatizados. Cerca de 40 animais sem perfil para adoção ou de risco eram eutanasiados. Já com a nova lei, em julho foram recolhidos pela entidade 30 animais e nenhuma eutanásia foi realizada.

Embora os órgãos públicos afirmem só receber animais portadores de doenças que representem risco à saúde pública, o sacrifício ainda é praticado como política de controle. Segundo Maria Luiza, “por muito tempo o controle foi realizado por recolhimento seguido de extermínio ocasionando dor ao animal, ou seja, não era eutanásia”. De acordo com o CCZ, a lei faz apologia a não domicialização, assim, oficializa e formaliza o cão de rua. Para o órgão essa é uma posição contrária à conscientização e posse responsável, pois deixar o animal na rua não promove seu bem estar.

Para realização dos objetivos da lei, o deputado Carlos Gomes destaca a possibilidade de parcerias público-privadas entre órgãos governamentais, estabelecimentos veterinários, associações e entidades de proteção aos animais. Essas organizações assumem, muitas vezes, o papel do Estado fornecendo espaço, alimentação e medicação aos animais e sobrevivem por meio do voluntariado e doações das comunidades.

Em São Paulo, uma lei semelhante vigora desde o ano passado. Para Carlos Rosolen, membro do Projeto Esperança Animal (PEA), as dificuldades de implementação da lei se dão principalmente pela ineficiência de prefeituras. Porém, a lei representa economia de verbas públicas, respeito à vida e apresenta alternativas de parcerias e investimentos melhor direcionados. A PEA diz que a lei em si não tem o poder de impedir a morte de animais sadios e depende da sociedade cobrar ações por parte dos administradores públicos. “Além da conscientização, seria benefício para a sociedade ampliar o conceito para lei federal”, conclui Rosolen.

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Em São Gabriel, a luta continua...



"nós não queremos viver de cestas básicas do governo. Nós queremos produzir."

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sem Terra reclamam de tortura policial em São Gabriel

“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem a público denunciar a ação truculenta e de tortura da Brigada Militar na ação de reintegração de posse da Prefeitura de São Gabriel (RS), ocorrida nesta quarta-feira à tarde. A violência e o uso, pelos governos, da Brigada Militar para reprimir protestos dos movimentos sociais já se tornou comum no Rio Grande do Sul.

Pelo menos trinta pessoas, entre crianças e adultos, ficaram feridos – incluindo pessoas com dedos e braços quebrados – no despejo forçado realizado pela Brigada Militar. Todos os 250 sem terra foram identificados e humilhados. Os manifestantes foram encurralados dentro da prefeitura, onde foram golpeados por cacetete, chutes e tapas dos policias.

No entanto, o fato ocorrido em São Gabriel nesta quarta-feira ultrapassou o limite do convencional e adquiriu características de tortura policial. As famílias relataram que, enquanto estavam na delegacia para serem identificadas, continuaram recebendo golpes de cacetete, chutes, socos e tapas dos policiais. Chegou a ser montado um “corredor polonês” em que as pessoas foram obrigadas a atravessar enquanto recebiam chutes e cacetadas. Inclusive a nova pistola elétrica, que deveria ser usada para ajudar na imobilização durante perseguição policial, foi utilizada para dar choque nas pessoas.

Nesta quinta-feira (13), integrantes do Comitê Estadual Contra a Tortura estão em São Gabriel conversando com as famílias sem terra e recolhendo os depoimentos. O MST repudia mais essa ação violenta da Brigada Militar, dirigida pelo subcomandante Lauro Binsfeld - o mesmo que comandou o despejo das mulheres da Via Campesina em uma área da papeleira Stora Enso em Rosário do Sul (RS), em 2008, e que resultou em quase cem manifestantes feridas.

O MST também repudia a decisão do prefeito de São Gabriel, Rossano Gonçalves, de ter se negado a conversar com as famílias e ter autorizado a ação da Brigada Militar; e responsabiliza os governos estadual e federal, que não realizam a reforma agrária. Exigimos saber onde estão os recursos que o governo federal diz que liberou, mas o prefeito Rossano Gonçalves afirma que ainda não recebeu.

Enquanto Incra e prefeitura não assumem suas responsabilidades pelo assentamento, três crianças já morreram desde o início do ano por falta de atendimento médico. Também criticamos o Ministério Público, que além de não encaminhar o pedido por escola feito pelas famílias, esteve presente na ação de despejo e foi conivente com a violência policial.

As famílias seguirão em luta porque suas reivindicações não foram atendidas. Exigimos as melhorias em infra-estrutura no assentamento, que passados nove meses de criação ainda não tem luz elétrica, água potável, estradas, escola para as crianças. Exigimos que o governo federal libere os R$ 800 milhões do orçamento do Incra para a reforma agrária e para o assentamento de todas as famílias acampadas no RS (conforme prevê o Termo de Ajustamento de Conduta que não foi cumprido pelo Incra). Exigimos a desapropriação do restante da Fazenda Southall e a liberação imediata, na Justiça, das Fazendas Antoniazzi e 33, em São Gabriel.”

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Rede Globo e Record e jogam (m*) no ventilador



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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Parcial entrevista: conversamos com um Trotskista/Internacionalista em Honduras

Carolina S. Marquis
O estudante de teologia e ativista político de El Salvador, Martín Diaz, conversa com O Parcial. Ele esteve em Honduras nos primeiros dias de golpe de Estado e participou das manifestações da população em defesa da volta do presidente deposto Manuel Zelaya.

Parcial - Qual é a tua opinião sobre o governo de Zelaya antes do golpe?

Martín - O presidente Zelaya e sua administração começavam a sair das mãos da polarização política hondurenha, uma vez que em Honduras não há um partido político de esquerda. Zelaya, um homem de direita, compreendeu a importância de uma movimentação social e do bem estar da população em geral.
Que um presidente vindo de um partido liberal que é, junto com o nacional, os partidos tradicionais de Honduras, estabeleça um diálogo, uma comunicação, um debate permanente com as organizações sociais, é, para a oligarquia, um pecado mortal.
Em resumo, o presidente Zelaya deixou de gato amansado pelo poder oligárquico a um leão que caminha junto ao povo.

Parcial - Tu estavas de acordo com a mudança da constituição para que o presidente pudesse ser reeleito?

Martín - Com a consulta popular não se decidia nada. Somente se consultava o povo para saber se eles estavam de acordo ou não a ter uma quarta urna nas próximas eleições, no final deste ano na qual se definiria a convocatória para uma assembléia constituinte.
O presidente Zelaya, de nenhuma maneira explícita propunha uma reforma constitucional para poder se reeleger como candidato a presidência, senão propôs a convocatória para uma assembléia constituinte para, então, criar uma nova constituição. Isso é em todos os aspectos legítimo e democrático.

Parcial - Qual é a tua opinião sobre o papel da Igreja no golpe?

Martín - As igrejas têm um importante papel neste golpe de estado. Em primeiro lugar a igreja católica é indispensável para os golpistas. O cardeal Maradiaga, realizou declarações a favor do governo de fato. Em El Salvador as máximas autoridades hierárquicas da igreja católica também respaldam aos golpistas.
Por outro lado estão as igrejas históricas, encabeçadas pela igreja Luterana, que tem levado uma luta junto ao povo e a qual assimilou a uma delegação da igreja Luterana de El Salvador a Honduras para apoiar a Igreja e o povo na luta pela recuperação da ordem constitucional.

Parcial - Como é a tua militância política em El Salvador?

Martín - Eu me considero um Internacionalista e um Trotskista de coração. Em El Salvador eu faço parte de diversas organizações sociais. Sou membro do Comitê Coordenador do Movimento Popular pela Paz e Justiça (PMJS), no qual represento o setor de jovens. Também sou Coordenador Geral da Juventude em prol das Artes Contemporâneas (JAC). Diretor do meio de difusão da organização “Observador Juvenil” e membro da Tendência Revolucionária. (TR).

Parcial - Por que fostes a Honduras no momento do golpe?

Martín - É um dever de todo internacionalista e revolucionário amante de toda a Justiça e Paz Social, lutar contra semelhante hostilidade junto aos povos oprimidos. Nesta ocasião “fui hondurenho” e viajei a Honduras para reunir-me com pessoas de organizações locais que colaboramos em El Salvador. Minha missão foi apoiar maneira logística e apoiar ao povo hondurenho na luta contra os golpistas.
Isso é tudo que posso dizer, por motivos óbvios.

Parcial - Quais são os benefícios que o governo Zelaya trazia à população hondurenha?

Martín - O maior feito deste governo foi administrar e advogar pelas maiorias mediante a integração dos povos.
Há que se levar em consideração que todo presidente se torna suspeito quando dialoga e trabalha junto às organizações populares. Isso é visto como uma ameaça à oligarquia.
Além disso, o presidente Zelaya estava se aproximando politicamente da Venezuela e começou a trabalhar com a PetroCaribe no projeto ALBA, fortalecendo assim a relação com Cuba. Todos esses fatores fizeram com que o governo Zelaya fosse suspeito às classes dominantes de Honduras.
Qual era, em geral, a opinião do povo, sobre a “mudança” do tipo de governo de Zelaya desde o início de seu mandado?
Positivo. Prova disso é que o povo está marchando desde o dia 28 de Junho exigindo o retorno de seu presidente.

Parcial - Qual foi a impressão que ficaste dos dias em que estivestes em Honduras?

Martín - Triste, porque enquando o povo era oprimido por forças militares, as classes média e alta da sociedade desfrutavam em bares, restaurantes e luxuosos centros comerciais. É muito triste ver isso e só me faz reafirmar que o que está acontecendo em Honduras é uma luta do povo contra a burguesia.

Parcial - O que diziam as pessoas na rua. Como eram as manifestações?

Martín - As mobilizações do povo hondurenho são, além de persistentes, realmente disciplinadas.As pessoas gritam, cantam, choram, dançam, saltam, pintam. Enfim, fazem o que sua imaginação permita para mostrar que são contra os golpistas.
Nas marchas em que estive, em meio às pinturas recitavam “Fora Goriletti”, “Cardenal Satânico, o povo não acredita em ti”, etc. Uma mulher que participava do movimento feminista escrevia “Viva as camisinhas com sabor”. O que quero dizer é que as pessoas mantêm o espírito sarcástico. Pessoalmente eu acho que foi genial que essa mulher tenha escrito isso na parede.

Parcial - Como é viver no país vizinho ao golpe. O que fazem para ajudar os hondurenhos?

Martín - Nós colaboramos com os aspectos logísticos mediante sinais de rádio de nosso país que escutam em Honduras. Ajudamos com dinheiro para transportar as pessoas que se manifestam, com mobilizações em nosso país, corte de ruas. Em duas ocasiões nossa organização fechou a fronteira com Honduras com mais de duas mil pessoas.

Parcial - Como a população de El Salvador a respeito do golpe de Honduras?

Martín - Preocupação e medo. O nosso pode ser o próximo país a sofrer um ataque como o de Honduras. A igreja Católica e o partido de ultra direita ARENA expressam abertamente que, caso o novo governo de El Salvador seja um governo voltado para o povo, acontecerá o mesmo que em Honduras.

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Novo movimento gera polêmica

Caroline Berbick
Descontentes com o comportamento da União Nacional dos Estudantes (UNE), componentes da esquerda do movimento criaram a Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL) para lutar pelos interesses estudantis de forma independente.

O novo movimento estudantil surgiu no Congresso Nacional de Estudantes (CNE), que ocorreu entre os dias 11 e 14 de junho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O evento organizado principalmente pela Juventude do PSTU reuniu cerca de 1.800 estudantes de todo o país. O principal objetivo do congresso foi criar uma entidade nacional combativa que aja de forma independente da UNE, instituição que, para muitos estudantes, já não defende mais os interesses da classe.

A proposta da ANEL é de uma assembleia desprovida de diretoria, composta por estudantes eleitos em universidades e em organizações gerais como o Diretório Central dos Estudantes (DCE). O movimento pretende reunir-se a cada dois meses e agir de maneira menos burocrática e governista que a UNE. A ANEL tem apoio de algumas correntes do PSOL, da Liga Estratégia Revolucionária, do Coletivo Marxista, da Liga Bolchevique Internacionalista e de alguns DCEs como o da Universidade de São Paulo (USP) e o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Oposição à UNE
A UNE é dirigida pela União da Juventude Socialista (UJS – PCdoB) há duas décadas. Tamanha hegemonia desperta revolta e desconfiança por parte de outros setores da entidade. Apesar de reconhecerem o importante papel que ela desempenhou na história do movimento estudantil brasileiro, afirmam que, atualmente, a UNE não é mais um movimento combativo, mas um instrumento do governo.

O apoio oferecido às reformas universitárias do governo federal intensifica as acusações: “É inegável que a UNE, há 20 anos, não representa mais todos os estudantes de luta. A UNE que ‘panfleteia’ o ‘fim do vestibular’, elogia o ProUni e recebe milhões do governo Lula não representa grande parte dos estudantes do Brasil”, afirma Tiago da Silveira, membro do DCE da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Outros movimentos já foram criados para agir de forma paralela à UNE, mas nunca conseguiram alcançar a projeção da entidade que já tem 70 anos. O Fórum Nacional de Executivas e Federações de Curso (FENEX) e a Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes (Conlute), que foi proposta pelo PSTU, assim como a ANEL, são exemplos destas organizações.

Resistência
A ANEL promete ocupar reitorias em prol da democratização universitária, lutar por eleições diretas para reitor e fazer oposição às medidas do governo. Mesmo apresentando propostas como essas, que agradam grande parte da oposição da UNE, o projeto não convenceu várias grupos. Um dos motivos foi o fato da ANEL ter sido concebida por iniciativa de um partido político.

O Congresso Nacional dos Estudantes, onde a entidade foi criada, foi promovido principalmente pelo PSTU, que constituía a maioria dos participantes. Esta grande influência político-partidária representa um empecilho para aqueles que desejam um movimento estudantil independente de questões eleitoreiras. “A ANEL nasce com o vício de ter uma hegemonia controlando-a, nasce em um congresso onde não se tinha vontade política de se discutir os problemas do movimento estudantil, nasce vinculada a dispositivos que permitem apoiar e fazer campanhas para partidos”, declara Tiago da Silveira, membro do DCE da UFRGS.

A UNE desaprova a nova instituição. Daniel Damiani, 1º Diretor de Assistência Estudantil da UNE, critica as organizações que buscam fragmentar o movimento: “Particularmente acredito que é um equívoco sem tamanho, que não resolve nenhum dos problemas do movimento estudantil e cria mais um: a divisão”. Ele destaca o histórico de lutas da UNE e a grande representatividade que ela tem entre os movimentos sociais brasileiros. Depois afirma: “Já esta ANEL, parte da insistência de um partido político em criar a sua própria entidade, reunindo a simpatia de setores minoritários, fragmentados, e inexpressivos, da periferia do movimento”.

Outra luta
Grupos que não aprovam a UNE e nem a ANEL defendem a libertação política e estrutural dos movimentos estudantis. Acreditam que a institucionalização deve ser rompida para que erros antigos não sejam cometidos novamente. O processo de organização concreta, segundo este ideal, somente se daria a partir de um novo ciclo de lutas. Enquanto esta proposta não sai do âmbito ideológico, UNE e ANEL lutam por espaço e pelos interesses da classe estudantil.

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Celso Schröder fala sobre o diploma

Felipe Baierle
Nesse mês, O Parcial inaugura sua mais nova editoria de opinião e conversa com o petista, jornalista e professor universitário Celso Augusto Schröder. Sem papas na língua, o vice-presidente da Fenaj esclarece várias dúvidas sobre a questão da recente queda da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão.

Parcial - O que significou para o movimento dos trabalhadores em jornalismo e estudantes do curso essa alteração na regulamentação da profissão?

Schröder - É uma decisão que atende aos interesses mais conservadores do país. Atende de um lado, um vetor político absolutamente mesquinho, que é o de simplesmente baixar custos dos jornais. Agora, por exemplo, quando tu pega os classificados já há uma mudança no edital de convocatória. Num concurso para vaga de jornalista, que saiu semana retrasada, que era da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) agora já pede jornalista sem diploma.

Parcial - Depois da queda da obrigatoriedade do diploma, há possibilidades de que os jornalistas percam seus direitos como piso salarial e jornada diária de cinco horas?

Schröder - Sim, a tendência é essa. Mas existe uma regulamentação. Os pisos estão valendo. Os acordos estão valendo. As cinco horas (de jornada diária) nos jornais estão valendo. O que eu estou dizendo é que a queda da obrigatoriedade do diploma vai tender... E, esse caso do concurso é uma prova de que tenderemos todos nós a ser enquadrados não mais como
trabalhadores de terceiro grau, mas de segundo grau e obviamente, com uma remuneração menor.

Parcial – Não estaria na hora de rever o processo pelo qual se indicam os ministros do STF?

Schröder - Esse é um bom debate. Eu há alguns anos dizia que tinham dois espaços da sociedade brasileira que não haviam sido redemocratizados suficientemente. Um era a comunicação, que está sem nenhum tipo de incidência pública sobre ela.
O judiciário é muito mais cristalizado. A forma que nós montamos o judiciário no Brasil é quase como se fosse uma capitania hereditária onde a incidência do público é muito pequena.

Parcial - E a PEC que está sendo produzida em Brasília para que volte a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo no exercício da profissão, pode ser uma solução?

Schröder - Sim, nós não temos outra solução. Nós temos que formatar no congresso nacional um grupo de parlamentares alinhados com essa causa.
Para o nosso otimismo, configurou-se muito rapidamente um movimento coeso e meio que espontaneamente articulado onde no primeiro dia já havia 40 senadores. Agora já são mais de 60, somando quase 200 parlamentares nessa comissão mista que tenderá a apresentar uma emenda constitucional.

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Utopia e luta contra o capitalismo

Caroline Berbick
Nas escadarias da Avenida Borges de Medeiros, em pleno centro de Porto Alegre, existe uma comunidade que desafia o sistema capitalista ao adotar um estilo de vida baseado na ideologia libertária e na autogestão. Instalada no antigo prédio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), a Comunidade Autônoma Utopia e Luta é o primeiro movimento social a apropriar-se de um imóvel público em estado de abandono.

A história da Comunidade Autônoma Utopia e Luta começa em 2005, durante o 5º Fórum Social Mundial, quando o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), junto a ativistas de diferentes países como França e Japão, ocupou o prédio do INSS que estava em situação de abandono há mais de 10 anos. Cerca de 160 famílias permaneceram no local por 20 dias, exigindo solidariedade na distribuição e no aproveitamento dos espaços urbanos.

A ação estimulou negociações com o governo e, em 2007, foi aprovada a Lei de Conversão que autoriza a transferência de imóveis desocupados da União para projetos habitacionais de interesse social. Nesta ocasião, o INSS liberou 1.600 prédios em todo o país. O edifício da Borges de Medeiros era um deles.

Garantida a posse do imóvel, iniciou-se o processo de seleção das pessoas que habitariam os apartamentos de 30 e 25m². Pelo menos 300 famílias passaram pelas comissões. Elas deveriam ter entre um e dois filhos, renda de até três salários mínimos, estar dispostas a viver em comunidade e não ter interesses eleitoreiros. Foram quatro anos de reuniões para hoje estarem definidas as 42 famílias que fazem parte da comunidade, totalizando quase 100 membros.

Inicialmente, o projeto de ocupação tinha apenas o objetivo de criar moradia popular, mas a Comunidade Utopia e Luta foi além. Instaurou-se ali um ambiente de cultura e coletividade, onde se aplica e se discute questões como educação, ecologia e políticas públicas. Segundo Marcelo Nunes Machado, coordenador de finanças e saúde do prédio, este sistema evita o mau uso do espaço conquistado: “Não adianta dar uma casa ao cidadão e não ter um projeto social que o envolva. Se a pessoa não tem emprego e nem estrutura, acaba vendendo a casa ou alugando”.

O novo planejamento arquitetônico do edifício foi feito para favorecer a convivência entre os moradores. Além dos sete andares residenciais, que são estampados por painéis com temas como biodiversidade, revolução e juventude, existe o terraço, que dá lugar à horta comunitária, o refeitório no qual acontecem os almoços coletivos, a lavanderia, que atende a todos os apartamentos, e o teatro Quilombo das Artes, centro cultural aberto ao público. Planos de ter uma padaria própria, uma creche, espaços para inclusão digital, reciclagem e serigrafia, também estão sendo encaminhados.

A meta da comunidade é atingir a autogestão e, desta maneira, confrontar o sistema capitalista de consumo. Organizados pela Cooperativa Solidária Utopia e Luta (Coopsul), buscam chegar ao ponto de produzir e administrar seus próprios recursos. Para Eduardo Solari, coordenador geral do movimento, a autonomia política é tão importante quanto a econômica: “Procuramos, também, a autogestão políticoideológica. Não estamos vinculados a partido nenhum. O governo é produto do sistema e nós combatemos esse sistema”.

Para concluir os projetos de engenharia, a cooperativa espera a certidão de habite-se da Prefeitura. Enquanto isso, os moradores aprendem a conviver em coletividade e constroem um ambiente de clima revolucionário que se fortalece cada vez que um deles passa pelo hall de entrada e lê a frase pintada que os recepciona: “Estás entrando em território de autodeterminação popular”.

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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Editorial julho

Quando ideais em comum mobilizam pessoas, que passam da intenção à ação, do discurso ao ato está iniciado um movimento. Um deslocamento, uma agitação, uma alteração da posição existente, enfim, uma evolução. Em interação é inerente aos seres humanos a busca pela harmonia na organização da sociedade como organismo vivo, ativo e não passivo, crente na possibilidade de justiça, igualdade, liberdade e paz. Durante esse processo de construção surgem organizações estruturadas, em que pessoas associam-se para fomentar ou garantir seus objetivos, cria-se um movimento no âmbito social. Uma revolta, que pode ser relacionada, entre outros motivos, aos direitos humanos, à liberdade de informação, ao direito à educação.

Jovens que participam de uma revolta organizada baseada na luta, realizaram o 1º Congresso Nacional de Estudantes, um espaço para o debate que deu origem a uma nova entidade a Associação Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL). Inovadora em sua estrutura coloca lado a lado acadêmicos e secundaristas, veteranos e novatos. A união e envolvimento dos estudantes é essencial para garantir o direito à educação de qualidade, a não precarização do ensino, em todos os níveis, o investimenrto em estrutura e profissionais. Para tal, os atos e lutas em conjunto com a classe trabalhadora indicam a pluralidade e intenção de mudança, pensando a educação como fundamento do bem coletivo. Desde que isentos de interesses político-partidários.

Os debates, os encontros e as ações partem do amadurecimento da consciência política. Pois, é o mesmo princípio do jornal O Parcial, que ao falar em democratização da informação, quer lutar junto pela educação e não repressão. Um movimento, que também se manifesta pela liberdade, assim como a ANEL, livres, mas responsáveis, que devem manter a independência política e econômica. São ativistas que já iniciaram a mudança e têm expectativa que aqueles ainda entregues ao comodismo, desejem também serem atores das melhorias sociais.

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Carta ao destino

Ai, ai, o destino... Quem somos? Para onde vamos? De onde surgimos?

Talvez estivesse pensando nessas perguntas universais, olhando pela janela do ônibus, “sentindo o futuro no ar”, quando uma sacola de supermercado contendo 75 Parciais tenha sido perdida/furtada.

Ok, gente. Todos querem O Parcial, mas se por acaso alguém encontrou a fatídica sacola, pedimos que, por favor, faça bom uso deles. Leia-os, ajude-nos a vender assinaturas, divulgue no seu bairro, na sua comunidade. Se quiser começar a se corresponder com a gente, ótimo! Adoraríamos!

Porque, querido premiado, O Parcial é um jornal de esquerda. Pensamos seriamente no futuro da humanidade. Por isso não tenha medos, ou receios: é leitura para a família inteira!

Caso não esteja interessado em ficar com os nossos 75 jornais encontrados por força do acaso, pedimos que nos devolva.

Nosso sincero agradecimento.

O Parcial

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Erramos (edição impressa junho)

O Parcial é um jornal comprometido com seus leitores. Esta é a 15ª edição e nos propomos a oferecer informação completa e de qualidade. As dificuldades por que passamos são muitas. Desde a clássica falta de verba pra rodar o jornal que nos preocupa a cada edição; o tempo, que é sempre apertado para completar todo o processo da notícia; a autocrítica a que nos sujeitamos etc.

Foi justamente pela nossa autocrítica que resolvemos, nesta edição, publicar uma errata. Não vamos citar erro por erro, deslize por deslize, porque não há boas razões para tal. Simplesmente gostaríamos de nos desculpar com nossos leitores por eventuais erros que podem ter encontrado na edição passada. Estamos sempre trabalhando para que eles se minimizem ao máximo.

Outro item a ser destacado na errata é a presença não citada no editorial da 13ª edição da estudante de serviço social. Ela é essencial para aprofundar os fundamentos do jornal movimento que nos propomos a ser.

O Parcial agradece! Esperamos que gostem da 15ª edição!
Hasta La Vitória!

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Bibliotecas à venda

Carolina Marquis
Não há na língua espanhola nenhuma palavra que sirva para descrever e abrigar dentro de seu significado o lugar de aroma inconfundível que fica preso nas narinas, na alma e na memória das pessoas. O lugar que, ainda que passemos anos dentro, não terminaremos de descobrir sua mágica e mistérios.

Como diz a música de Caetano Veloso, os livros são os únicos objetos – os amantes dos livros, por favor, perdoem a frivolidade da palavra - capazes de “lançar mundos no mundo”. Ainda que em Buenos Aires, AR, haja uma a cada duas quadras, os portenhos não inventaram uma palavra em que caiba o significado do que nós, brasileiros, chamamos de sebos. Mas as “livrarias-que-vendem-livros-usados” têm muito mais mundos do que os locais que vendem livros diretamente das editoras. Encontrar uma assinatura antiga, um marcados de páginas, ou um parágrafo sublinhado, são coisas capazes de emocionar a qualquer leitor convicto.

Em uma das tantas livrarias localizadas entre a avenida ‘Callao’ e ‘9 de Julho’, sobre a avenida ‘Corrientes’, com a voz de Bob Marley estourando nas caixas de som e as estantes recheadas de Brecht, Miguel de Cervantes, Kafka, Shakespeare, García Marques, entre milhares de outros autores clássicos, contemporâneos e “de moda”, Sérgio Alvarez passa a semana.

O homem se dedica a vender livros que já tiveram outros donos e já fizeram parte de outras casas. Esse é apenas um dos muitos lugares dedicados a esse negócio. O local não tem nome na frente. Somente uma placa negra com letras brancas que garrafais gritam: “COMPRO LIVROS”. Best Seller, literatura, auto-ajuda, história, filosofia, psicologia, arte e teatro são alguns dos tipos que Mariano Brosky, o dono da “livraria-que-vende-livros-usados” que contém mais de 20 mil exemplares, requer.

“Os livros chegam aqui das formas mais variadas: uma avó que morre, pessoas que se mudam para lugares menores, outras se separam e decidem se desfazer. Também há os que precisam de dinheiro. As pessoas que chegam à livraria com caixas imensas e as que vêm com apenas um livro para trocar por outro”, diz Sergio enquanto vende a um jovem a novela em que os animais tomam o poder e tratam com tirania aos humanos, “ Revolução dos Bichos”, de George Orwell.
Descendo a avenida ‘Corrientes’, pela avenida ‘Talcahuano’, damos de cara com a feira de livros ‘General Lavalle’, entre o Palácio da Justiça e o Teatro Colón, uma instituição Nacional do país dos bons ares. Na feira Juan Fronza passa os dias entre segunda e sexta-feira juntamente com Diana Fronza, sua esposa. “Essa foi a primeira feira de livros de Buenos Aires. Antes estava atrás de Cabildo, faz alguns anos viemos para cá”, diz Diana.

O casal comparte duas cadeiras listradas de praia e se dizem muito contentes de haverem passado a vida entre histórias e romances. “Antes as pessoas liam muito mais neste país. Vinham no início da tarde e olhavam livro por livro. Hoje em dia elas vêm atrás de um título”, reclama entre sorrisos simpáticos que lhe caracterizam, Juan.

“O público é, em geral muito quadrado. Vão no seguro: Borges, García Marquez, etc. Já não arriscam como antigamente”, reflete Sergio Alvarez.

Saindo do centro de Buenos Aires com a linha B de metrôs e depois de fazer conexão com a D, chegamos à praça Itália, no coração do bairro Palermo. Lá está Raúl Rodriguez, presidente de Associação de Livreiros de Buenos Aires. Ele diz que não é que as pessoas sejam propriamente quadradas quando o assunto é literatura. “Em épocas difíceis as pessoas compra somente o conhecido e pré-aprovado. Os livros estão muito caros hoje em dia. Quando as pessoas têm alguns pesos a mais nos bolsos elas arriscam no novo”.

Raúl é um personagem. Além das obrigações que cumpre com os livros há mais de vinte anos, é torneiro mecânico. Deixou a profissão há duas décadas e, desde então, dedica-se a comprar e vender livros, revistas e partituras musicais. Tudo isso dentro de uma das bancas verdes localizadas entre as duas mãos da ruidosa avenida Santa Fé.

Entretanto para Raúl, o homem dos dentes e poucos cabelos brancos, os livros são um trabalho, não uma paixão, como na maioria dos outros casos de vendedores de livros. “Não me interesso muito por livros quando estou em casa. Leio para poder orientar o público”, diz Raúl do alto de seu banco alto como o de um bar e com os braços apoiados sobre uma biografia de Woody Allen.

As “livrarias-que-vendem-livros-usados” são cor sépia. Como se fosse uma fotografia antiga esquecida em uma caixa em baixo da cama do avô. Os livros destes lugares têm encanto próprio e, ainda que muitas vezes as letras que os recheiam estejam quase apagadas pelo tempo, elas transmitem poesia. Dão a impressão de uma antiga biblioteca, em que os livros podem ser levados para casa sem prazo de devolução.

E como disse Jorge Luis Borges: “Eu sempre imaginei o paraíso, como uma espécie de Biblioteca”.

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terça-feira, 28 de julho de 2009

Pontal tem rumo certo

Gustavo Nunes

A construção de prédios comerciais no Pontal do estaleiro é irreversível. Porém, a possibilidade de instalar prédios residenciais na área conhecida como antigo Estaleiro Só, dependerá da escolha da sociedade, por meio da consulta popular. No entanto, a empresa responsável pelo espaço indica outra realidade.

A BM Par Empreendimentos proprietária da área do Pontal do Estaleiro, já garatiu ao prefeito José Fogaça que não há intenção de permirtir a construção de moradias no espaço. De acordo com o diretor da empresa, Rui Pizzato, “independente da consulta popular, as construções naquele local serão apenas comerciais”.

Mesmo diante da posição revelada pela empresa, a cidade de Porto Alegre se prepara para ir às urnas em 23 de agosto e opinar sobre a questão. Serão 330 urnas distribuídas em 90 locais da capital. O vice-prefeito José Fortunati, responsável pela comissão organizadora da consulta popular argumenta: a consulta popular é a melhor forma para continuar a participação da sociedade na decisão do destino da capital.

O Pontal do Estaleiro faz parte do Plano Diretor da cidade e integra o projeto de revitalização da orla do Guaíba. São obras de interesse imediato devido a proximidade da Copa do Mundo de 2014. Interesses de empresários e políticos vão de encontro a sociedade e ambientalistas, pois não há evidências de um estudo de impacto ambiental e nem garantia de que a área permaneça com livre circulação, como é até o momento. Conforme o professor de Arquitetura e Urbanismo, do IPA, Marcos Miethicki, “é a privatização da praia de uma maneira diferente de outros países. É a criação de uma área particular”.

Não existe um projeto arquitetônico para o local, apenas maquetes virtuais. Os Estudos de Viabilidade Urbanísticas (EVU) datam de 2002, ou seja, mesmo definido como projeto de revitalização, o Pontal do Estaleiro não pode de antemão apresentar à população os impactos ambientais gerados com as obras. Para o secretário da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM), Carlos Alberto Oliveira Garcia, toda a questão na orla do Guaíba é voltada para onde serão colocados os resíduos sólidos. “Os dejetos e o esgoto como vão ser tratados?”, questiona. O vice-prefeito José Fortunati garante que a pesquisa de impacto ambiental será feita quando o projeto for protocolado.

Os porto alegrenses irão às urnas responder a seguinte pergunta: deve ser permitida, além da atividade comercial, edificação destinada à atividade residencial na área da orla do Guaíba onde se localiza o antigo Estaleiro Só?

Os gastos com a realização da consulta popular deve movimentar cifras de R$ 300 mil e de acordo com o resultado a proposta será encaminhada para votação na Câmara dos vereadores e abertura de licitações. Entretanto, a população não pode ter certeza do valor da sua participação.

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Vereadora denuncia violência da BM

Felipe Baierle
Machucada durante a manifestação em frente a casa de Yeda (16), Fernanda Melchionna mostra para O Parcial a prova da agressão sofrida. Segundo a vereadora que fez no mesmo dia um Boletim de Ocorrência e exame de corpo de delito, há a possibilidade de que se abra um processo contra a Brigada Militar.




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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Melchionna fala sobre o ato em frente a casinha de Yeda

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Núcleo de Estudantes de Jornalismo convoca reunião estraordinária

Fernando Rotta

O Núcleo de Estudantes de Jornalismo, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, convoca estudantes, profissionais, coordenadores de cursos, professores do Estado para reunião extraordinária a ser realizada no dia 11 de julho, às 14h, no auditório do Sindicato dos Bancários, localizado na rua General Câmara, 424, centro de Porto Alegre.

O encontro servirá para formação de comissão pró-diploma, no sentido de nortear a luta pela exigência da formação acadêmica para o exercício do jornalismo. Também estará presente o setor jurídico do sindicato para esclarecer dúvidas sobre a decisão do STF.

O evento é importante para tirar propostas e sugestões a serem apresentadas na reunião da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), marcada para o dia 17 de julho em São Paulo.

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Em Honduras, nada acontece

Em desacordo com a cobertura da mídia local de Honduras - que insiste em dizer que nada está acontecendo por lá -, manifestantes se organizam para produzir imagens captadas por celular e trazer a tona a realidade atual do país.

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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Catador fora-da-lei

Felipe Baierle

São onze horas da manhã de uma quarta-feira chuvosa e estou na entrada da Vila Chocolatão. Rodeado de prédios luxuosos, o amontoado de maloquinhas é por si só um milagre.

Há muito tempo se fala na remoção dos moradores da vila para que se desocupe o terreno pertencente a União. A sorte das pessoas dali é que nunca conseguiram transferi-los. Porque se conseguissem, os catadores não poderiam trabalhar, pois estariam longe do lixo do centro, nem os traficantes, que por sua vez não teriam playboys querendo drogas, nem as faxineiras ou pequenos batedores de carteira, nem os guardadores de carro, que não teriam carros para guardar.

Na calçada próxima à entrada da vila tem um; guardador de carro. Devo estar parecendo meio ridículo parado, debaixo dessa chuva, porque o cara ta me olhando com uma expressão estranha.

Não sou louco, marquei com o seu Antônio aqui. Estou esperando ele para uma entrevista. Por falar nisso, ele está atrasado. Vou entrar na vila e ver se alguém sabe onde ele mora.

Entrei pela pequena rua de chão batido que fica de frente para o parque Harmonia. Duas crianças brincavam em meio ao barro. Um gurizinho de uns dez anos se divertia jogando um besouro no cabelo de uma menina um pouco mais velha.

Riam muito, não pareciam ser crianças infelizes. E ainda por cima eram muito inteligentes. Logo que pedi me levaram até a casa do seu Antônio, cheguei rapidinho.

“Ô seu Antônio, esqueceu de mim? Estava lhe esperando lá na rua”, disse eu. “Pois é vizinho, pensei que o senhor nem vinha mais com essa chuva. Mas entra, a casa é sua”, me disse um muito educado catador de 32 anos, barba rala e cabelo bem penteado.

A casa do Sr. Antônio fica nos fundos de um terreninho onde estão mais quatro casebres de madeira. Na pequena residência de cinco metros de comprimento por três de largura só haviam três objetos de valor. Um aparelho de DVD, uma TV e um tanquinho branco de lavar roupas.

“Ó Rosa, esse aqui é o moço que eu falei. Ele veio aqui pra fazer a entrevista por que querem tirar os carrinhos da gente”, disse Antônio a título de apresentação. Dona Rosa, mulher dele, na verdade se chama Rosimeri Gulart Vieira. Desempregada, Ela também achou sustento na catação de material reciclável: “eu abro o saco (de lixo) e fecho direitinho. Às vezes, o meu marido até me xinga dizendo que ‘não dá tempo de arrumar tudo’. Não, eu tenho que amarrar direitinho”, explicou.

A energia elétrica que alimenta a TV e o chuveiro da casa onde moram Rosa, seu filho e Antônio vem de um gato. Pra quem não sabe, “gato” é uma instalação elétrica ilegal feita no poste sem que o usuário tenha que pagar pela luz. Uma estratégia de sobrevivência fora-da-lei.

Perguntei pra dona Rosa se ela não achava boa a situação, já que provavelmente não teria dinheiro para pagar a luz se lhe fosse cobrada. “Eu não acho que é melhor assim. É melhor tu ter o teu dinheiro e pagar as tuas contas do que...” completou a frase com um gesto de mão que queria dizer afanar, roubar.

Leis e pobres
Rosa e Antônio não sabem direito o que determina a Lei das Carroças. Não tem a real dimensão do que vai significar em suas vidas o “Programa de Redução Gradativa” de veículos de tração humana e animal em Porto Alegre.

Se soubessem que a lei de autoria do vereador Sebastião Melo (PMDB) proíbe a circulação de todo e qualquer veículo de tração humana ou animal em um prazo máximo de oito anos, não dormiriam tranquilos.

Perguntei a dona da casa se ela não acha que as leis são contra a sobrevivência dos pobres. Ela concordou, mas sem desânimo. Disse que “Deus não quer” a morte do povo e transpareceu ser uma pessoa feliz, sem rancores apesar de tudo. Dona Rosa e seu Antônio são desse tipo de gente “que ri quando deve chorar e não vive, apenas agüenta”. Aliás, essa música não saiu da minha cabeça durante toda a entrevista.

Adin
A ação direta de inconstitucionalidade movida recentemente pelo Ministério Público a pedido do Movimento Nacional dos Catadores, pode ser a luz no fim do túnel para muitas pessoas como seu Antônio e dona Rosa. Segundo a sub-procuradora para assuntos jurídicos do Ministério Público gaúcho, Ana Maria Schinestsck, “a lei 10.531 atribui uma série de condutas ao município. Entendemos que tem que haver uma regulamentação, mas isso tem que partir do município (poder executivo)”.

Caso ainda assim a Lei das Carroças encontre uma forma de vigorar, os catadores gaúchos não deixarão de trabalhar. Já aparecem pelas ruas pessoas carregando o material reciclável no braço, sem carrinho nem carroça. Mais uma maneira de sobreviver em uma cidade em que até o trabalho parece ser contra a lei.

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A mosca da PUC

Vicente Rao
Esqueça Kafka, aquele chato que se sentia uma barata.
Acompanhe meus dissabores na cozinha da PUC.
Quem sou eu?
Uma mosca.

Eram quase sete horas da noite. Eu não esperava que eles voltassem antes do jantar. Estava na mesa da cozinha recolhendo migalhas de pão quando a luz acendeu.

O clarão insuportável me cegou por uns instantes. Logo reconheci a voz de uma mulher berrando "tá cheio de moscas"!

Meu coração disparou. Voei para o teto. Me agarrei num cano. Tentei me esconder, mas a mulher já tinha me visto.

Eu conheço ela. É do tipo obsessivo. Não pode nos ver que tem um ataque de nervos. Ontem, ela matou alguns dos meus irmãos. Preciso ficar longe enquanto ela estiver com aquele spray na mão.

Não tenho medo dela. Temo é morrer sem completar minha missão de contatar com os humanos.

Sei lá porque escolhi este destino. Minha companheira quer que eu desista. Todos os dias me convida para ir morar no lixão da Ipiranga.

Mas eu não me entrego. Vou voar pelo campus todos os dias até cumprir minha missão. Sobrevivo como posso. Fico sempre alerta quando sinto o cheiro do veneno no ar - nenhuma de nós pode voar mais rápido do que um jato de spray.

Já vi muitas morrerem assim. A agonia dura segundos, o que é uma eternidade no nosso tempo de vida. Minha mãe morreu de um toalhaço. Se eu tivesse que escolher, preferiria mil vezes o toalhaço. É rápido, provavelmente indolor. Ou morrer de tapa, como aquele do Obama na Leslie (sim, era uma enviada nossa que tentava se comunicar com o homem mais poderoso da Terra).

Eu estava contando que estava na cozinha ? A velha saiu, ufa. Um garçon abriu a geladeira para tomar uma Coca. Pousei na porta, esperando uma chance de entrar, pegar alguma coisa, saltar fora. As pessoas sempre deixam a porta aberta por vários minutos, anos na minha vida. Voei rápido pra cima de uma feijoada - brrrr, odeio quando está fria.

Depois da janta, voei pra biblioteca. Faz tempo que estou esperando uma chance de usar o computador para minha missão de me comunicar com os humanos.

Se nós entendemos de computação? Claro que sim.

A sabedoria foi acumulada por milhões de moscas no mundo inteiro. Elas pousam nos videos ou em livros abertos para entender do assunto. A maioria morreu na tentativa, mas, finalmente, um texto foi produzido - o manual está em centenas de microbibliotecas pelo mundo todo.

Raciocine: com as telas dos computadores sensíveis ao toque de um dedo humano, não estamos muito perto de conseguir nos comunicar com os donos dos dedos, apenas pousando nas teclas dos computadores deles?

Acho que quando a primeira mosca conseguir vencer esta barreira, os humanos poderão obter grandes vantagens. Eles vão entender mais de doenças, de microorganismos, de genética. E espero que então parem de nos perseguir. Nós também somos gente (o conceito desta palavra se aplica primeiro a nós, depois aos humanos). Somos até mais inteligentes do que eles, porque nos adaptamos em qualquer lugar.
Nosso problema é a incomunicabilidade.

Os humanos não nos entendem. Nós tentamos de tudo, já falei da valentia da Leslie. Dias atrás li numa revista que uma turma na Holanda resolveu pousar numa mesa, num instituto de pesquisas, formando palavras. Mas, logo foi varrida com spray por um idiota que não se deu ao trabalho de ler a mensagem de paz.

O perigo deste sistema é que cada vez que nos juntamos em grandes bandos, logo vem uma reação violenta. Não admira que muitas de nós nem tentem mais se expressar.

Vejam o que aconteceu em Copenhagem: outro bando de moscas (tontas), bolou uma genial: sujar as patas de tinta, voar em grupos e manchar o papel com palavras. Escreveram "Nós queremos contato com os humanos". E as babacas assinaram "moscas". Depois, pousaram num canto da mesa pra ver a reação - só para morrer de toalhaço.

Tem o filme. A Mosca. Horripilante. Nenhuma de nós consegue crescer tanto. Nossa baba não é tão espessa. Nunca comemos do jeito que eles apresentam no filme . Nossa vida é mais curta. Eu nasci ontem, fiquei sabendo de todas estas coisas em meia hora, sei que minha vida vai acabar amanhã. Não daria para fazer um longa metragem.

Eu disse que tava na bibliotek?

Hoje, dei sorte. Encontrei o computador ligado. Estou na tela, escrevendo este texto. Toco com as patas, as letras vão saindo direitinho. Espero que vocês acreditem que foi uma mosca quem conseguiu esta proeza!

Quero bater a barata do Kafka. A coitada conseguiu escrever seu livro, mas depois da obra pronta, disseram que foi ele. Bobagem. Creio que seja da barata mesmo. Nós moscas pensamos, existimos, lutamos, morremos. As baratas também devem ser assim, iguais aos humanos, mas noutra esfera.

Ih, lá vem o zelador desligar o computador.

Que sorte, pousei no SALVAR COMO!

Você me lê, então minha obra está pronta.

Fiz o que podia.

Vou voar para a cozinha.

Porto Alegre, campus da PUC, 18 de junho de 2009
(ano 5.456.767 do calendário mosquico)

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Nasce um novo movimento

Samir Oliveira

Nos próximos dias, “aquarela” vai significar muito mais do que uma pintura feita com tintas diluídas em água. Vai significar mais igualdade. Mais tolerância. Mais compreensão. Pode parecer estranho, mas todas essas expressões vão se encaixar quando se tornar público o movimento Aquarela da População de Rua.

No dia 23 de julho, a população em situação de rua da Capital, estimada em mais de 1200 pessoas, de acordo com a própria prefeitura, pretende mostrar que está organizada, que não deve ser menosprezada. Um ato no largo do Zumbi vai hastear à sociedade a bandeira do movimento, seus integrantes e suas demandas. “Nós queremos mostrar que morador de rua não é qualquer objeto que dá para pegar e sair chutando”, denuncia Zilmar Ribeiro, envolvido na criação do projeto Aquarela e residente do Abrigo Marlene.

O novo movimento surge para, entre outras finalidades, romper com o Fórum dos Moradores de Rua e enraizar na cidade uma representação democrática dessa população. Os idealizadores acusam a antiga estrutura de não dar apoio às demandas coletivas e de beneficiar somente algumas pessoas. “O Fórum fazia parte de um segmento dentro do Orçamento Participativo, não tinha a perspectiva de conscientização”, critica Sérgio Borges, um dos articuladores.

O núcleo de assistência social das casas de convivência de Porto Alegre garantiu que os tons da aquarela saíssem do papel. Graças a esses profissionais, os moradores de rua conseguiram um local para se reunir semanalmente (a sede do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre) e deliberar sobre o movimento, além de usufruírem da orientação de quem é capacitado para lidar com essas situações. “Dentro das nossas atribuições está a motivação e o incentivo para organização coletiva. Isso faz parte do nosso cotidiano”, declara Rejane Pizzatto, assistente social da Casa de Convivência e uma das envolvidas no movimento Aquarela.

Violência e preconceito
Um dos focos de atuação da nova célula vai ser o combate à violência ostensiva da Brigada Militar. Não são raras as queixas de abuso de autoridade e emprego desnecessário da força física. “Os brigadianos muitas vezes levam o morador de rua para dentro do batalhão para lavar os veículos dos oficias”, lamenta Sérgio. Zilmar lembra a truculência sofrida pelas fardas: “Eles chegam chutando, mandando embora, não querem nem saber”, desabafa.

É para que pessoas deixem de ser escorraçadas como animais que o movimento Aquarela pretende agir junto aos órgãos competentes, como Ministério Público e Câmara de Vereadores. Zilmar ainda alerta um temor que se avizinha. “Com a Copa do Mundo, certamente ninguém vai querer ver morador de rua na cidade. O que vão fazer com essas pessoas?”, questiona.

A prefeitura, que tem na Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) um braço de apoio à população oprimida, desconhecia a articulação do grupo Aquarela. Entretanto, o diretor técnico da Fasc, Mauro Vargas, aclamou a iniciativa: “Somente com esses movimentos nós vamos conseguir ter recursos significativos para esse contingente excluído”. O órgão admite os abusos orquestrados pelos detentores da força. “Quando eles apanham na rua, para quem eles vão recorrer? Não é para a polícia, óbvio”, asseverou Vargas, completando que “o cidadão comum e o policial precisam ter em mente que morador de rua não é marginal”.

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Uma garrafa é muito, uma caminhão é pouco

Carolina Soares Marquis
Um portão pequeno de ferro pintado de preto e uma porta discreta. Ao atravessar a porta se vê desenhos que, se vítimas de um olhar distraído, poderiam ser confundidos com rabiscos infantis. Não o eram. Pinóquio fumando, dragão fumando, chaminé fumando, esqueleto-quase-apagado-pelo-tempo fumando. A maioria dos desenhos daquela ex-parede branca e atual parede suja fumavam. Exceto por um arco-íris em que mais da metade das cores faltavam e uma pergunta instigante questionava incessantemente: “quem sou eu?”.

Essa pergunta não é difícil de ser descoberta depois que se dão alguns passos e chega-se a uma sala com bancos longos e de madeira vulgar, muitas placas, fichas coloridas, cartazes, imagens de santos pendurados nas paredes e um aviso luminoso que não parava de piscar e lembrar aos desavisado: “EVITE O 1º TRAGO. DE 24 EM 24 HORAS”.

AA – Alcoólicos Anônimos.
No AA todos se chamam de “companheiro(a)” porque verdadeiramente o são. Foram companheiros na bebida e agora são de recuperação no programa de 12 passos.

1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.

Companheira Sandra II

Mulher de cabelos pretos e bem cuidados cortados à altura dos ombros. Por sua figura poderia perfeitamente ser a vendedora de uma loja de roupas infantis, ou a orientadora pedagógica de um colégio de classe média, mas não o é. É uma alcoólatra em recuperação como a maioria das pessoas que está naquela sala de janelas de banheiro.

Sandra diz estar há 24 dias sem beber e isso é, para ela, a maior vitória já alcançada. Essa mulher de quarenta e poucos anos começou a beber em 1999, no mesmo período que entrou em profunda depressão. Desde então ela se embriagava quase que diariamente. Decepcionou filhos e familiares, perdeu o emprego que tinha de secretária de um ginecologista e chegou ao que eles chamam de “fundo do poço”.

3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.
4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

Companheiro Sílvio VIII

Camiseta da banda Kiss. Cabelos compridos e revoltos presos por um elástico amarelo de amarrar o dinheiro que ele não tem. Calça preta. All Star preto. Pele maltratada cravada por algumas espinhas. Alcoólatra.

O companheiro VIII diz ter se mantido bêbado por 30 anos. Estava há dois sóbrio até o dia 18 de maio.

“Pra mim a bebida é fogo. O álcool é um conforto que eu nunca encontrei igual. Dia 18 não suportei: acordei, tomei três doses de uísque, almocei e dormi. Agora é levantar, sacudir a poeira e seguir em frente.”
Todos na sala enxergam o Sílvio que há dentro de cada um deles. O Sílvio que não agüenta e se rende ao vício, o Sílvio que simplesmente não pensa na manhã seguinte e nesta se entrega a uma dose de uísque.

Uma senhora magrinha de cabelos brancos sentada na última fila se levanta e vai ao encontro do gigante vestido de Kiss e lhe dá um abraço incrivelmente puro.

5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

Companheiro Jairo G.
“Eu já fui internado quarto vezes, já fui batuqueiro e já fui evangélico. Só no AA eu encontrei a cura. E eu nem entrei aqui pra me curar: entrei aqui pra mostrar pra minha família que eu tinha tentado de tudo e nada tinha funcionado. Entrei aqui para pararem de me encher o saco. E não é que funcionou?”

Assim Jairo inicia seu depoimento. As palavras duras não combinam com seu jeito descontraído e brincalhão. A maneira como as profere, faz com que elas percam parte do peso e ganhem leveza.
O companheiro diz ter mentido tanto na vida que hoje em dia, ao tentar se lembrar de alguma história do passado, ele não sabe dizer ao certo qual parte é verdadeira e qual é inventada. Ele mentia para conseguir dinheiro, mentia para justificar suas ausências, para ganhar tempo, para ouvir palavras de conforto, mentia porque sim e porque não.

Quando Jairo fala isso, muitas pessoas que o escutam e esperam sua vez de falar baixam a cabeça e, provavelmente, vêem nele sua imagem e semelhança. A mentira é um ponto comum entre os companheiros de AA. A mentira é um sintoma da doença que todos naquela sala compartilham.

7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições
8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

Companheiro Osvaldo II

“Hoje eu não bebi e tá bom. Tá muito bom. Hoje. Tá ótimo. Tô levando. Graças a Deus.” Segundo relatos, é dessa forma que começa o depoimento do companheiro Osvaldo há 15 anos, que é também o tempo que ele está sem beber.

“Fundamentalmente eu venho às reuniões pra lembrar que eu sou doente. Sem vir aqui não funciona, não dá certo. Porque eu não sei dar uma banda: eu sei é ir pro boteco. Se eu bobear ela me pega mesmo. O difícil não é parar de beber: é continuar sóbrio”.Essa é a sina de todos os membros do AA: a vontade permanente de dar o primeiro gole e a consciência do perigo que esse representa para sua recuperação.

9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las, ou a outrem.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

Companheiro Abroir
No momento em que a coordenadora profere o nome de Abroir inicia um burburinho na sala. Aqueles que estão em sua primeira reunião não entendem o porquê da reação da “platéia”, mas bastam alguns segundos para ser compreensível a todos a razão do fuzuê: Abroir é das figuras mais carismáticas do AA.

O vocabulário que utiliza deixa transparecer a todos a origem simples da qual provém. Os cabelos brancos e a pele negra contornam a bonita pessoa que é.

“Quando eu fui internado eu vi o bicho; eu vi ‘as parede’ rachar. Todo mundo me dizia:’bêbado, gambá e maconheiro tu vai ser até morrer. Tu não tem mais salvação’. Na Pinel eu vi que ali dentro 50% era louco e os outros 50% achava que não era”, fala de maneira expansiva e bem resolvida o Abroir.

O companheiro admite que o momento mais difícil foi também o mais importante para sua recuperação: “quando a gente se dá conta que tem que mudar é ótimo, mas mudar dói mais que qualquer outra coisa”.

“Cheguei aqui chamando urubu de ‘minha loira’. Hoje tá tudo mudado graças a Deus, a vocês e a minha força interior”.

11. Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.

Companheiro Norli
Norli é, na verdade, o ideal de recuperação de todos os presentes na sala do grupo Santana e, provavelmente, em todos os outros grupos do AA. Em processo de recuperação há 32 anos Norli está a esse mesmo tempo sem beber o primeiro gole. Está também há 32 anos freqüentando religiosamente as reuniões desse grupo que ele ajudou a fundar.

Norli é prático em seu jeito de falar e diz: “estou aqui por um compromisso moral, me sinto obrigado a contribuir para a recuperação dos meus companheiros uma vez que eu já tive toda a ajuda que precisei”.

Mas o senhor de oitenta anos diz que está ali principalmente para exercitar a cabeça. “Tenho mania de me atualizar em tudo: no AA e nos jornais. Esses dias eu disse pra Preta que a gente é o casal mais bem informado de Porto Alegre – a gente sabe de tudo! Estou aqui por uma questão racional; nada de sentimentalismos baratos”.

O idoso pensante também se mostra bem humorado: “vou terminar com uma anedota para que as pessoas não pensem que a gente só sofre por aqui. A gente chega triste, mas sai feliz por nossas vitórias”.

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