Carolina Marquis
Não há na língua espanhola nenhuma palavra que sirva para descrever e abrigar dentro de seu significado o lugar de aroma inconfundível que fica preso nas narinas, na alma e na memória das pessoas. O lugar que, ainda que passemos anos dentro, não terminaremos de descobrir sua mágica e mistérios.
Como diz a música de Caetano Veloso, os livros são os únicos objetos – os amantes dos livros, por favor, perdoem a frivolidade da palavra - capazes de “lançar mundos no mundo”. Ainda que em Buenos Aires, AR, haja uma a cada duas quadras, os portenhos não inventaram uma palavra em que caiba o significado do que nós, brasileiros, chamamos de sebos. Mas as “livrarias-que-vendem-livros-usados” têm muito mais mundos do que os locais que vendem livros diretamente das editoras. Encontrar uma assinatura antiga, um marcados de páginas, ou um parágrafo sublinhado, são coisas capazes de emocionar a qualquer leitor convicto.
Em uma das tantas livrarias localizadas entre a avenida ‘Callao’ e ‘9 de Julho’, sobre a avenida ‘Corrientes’, com a voz de Bob Marley estourando nas caixas de som e as estantes recheadas de Brecht, Miguel de Cervantes, Kafka, Shakespeare, García Marques, entre milhares de outros autores clássicos, contemporâneos e “de moda”, Sérgio Alvarez passa a semana.
O homem se dedica a vender livros que já tiveram outros donos e já fizeram parte de outras casas. Esse é apenas um dos muitos lugares dedicados a esse negócio. O local não tem nome na frente. Somente uma placa negra com letras brancas que garrafais gritam: “COMPRO LIVROS”. Best Seller, literatura, auto-ajuda, história, filosofia, psicologia, arte e teatro são alguns dos tipos que Mariano Brosky, o dono da “livraria-que-vende-livros-usados” que contém mais de 20 mil exemplares, requer.
“Os livros chegam aqui das formas mais variadas: uma avó que morre, pessoas que se mudam para lugares menores, outras se separam e decidem se desfazer. Também há os que precisam de dinheiro. As pessoas que chegam à livraria com caixas imensas e as que vêm com apenas um livro para trocar por outro”, diz Sergio enquanto vende a um jovem a novela em que os animais tomam o poder e tratam com tirania aos humanos, “ Revolução dos Bichos”, de George Orwell.
Descendo a avenida ‘Corrientes’, pela avenida ‘Talcahuano’, damos de cara com a feira de livros ‘General Lavalle’, entre o Palácio da Justiça e o Teatro Colón, uma instituição Nacional do país dos bons ares. Na feira Juan Fronza passa os dias entre segunda e sexta-feira juntamente com Diana Fronza, sua esposa. “Essa foi a primeira feira de livros de Buenos Aires. Antes estava atrás de Cabildo, faz alguns anos viemos para cá”, diz Diana.
O casal comparte duas cadeiras listradas de praia e se dizem muito contentes de haverem passado a vida entre histórias e romances. “Antes as pessoas liam muito mais neste país. Vinham no início da tarde e olhavam livro por livro. Hoje em dia elas vêm atrás de um título”, reclama entre sorrisos simpáticos que lhe caracterizam, Juan.
“O público é, em geral muito quadrado. Vão no seguro: Borges, García Marquez, etc. Já não arriscam como antigamente”, reflete Sergio Alvarez.
Saindo do centro de Buenos Aires com a linha B de metrôs e depois de fazer conexão com a D, chegamos à praça Itália, no coração do bairro Palermo. Lá está Raúl Rodriguez, presidente de Associação de Livreiros de Buenos Aires. Ele diz que não é que as pessoas sejam propriamente quadradas quando o assunto é literatura. “Em épocas difíceis as pessoas compra somente o conhecido e pré-aprovado. Os livros estão muito caros hoje em dia. Quando as pessoas têm alguns pesos a mais nos bolsos elas arriscam no novo”.
Raúl é um personagem. Além das obrigações que cumpre com os livros há mais de vinte anos, é torneiro mecânico. Deixou a profissão há duas décadas e, desde então, dedica-se a comprar e vender livros, revistas e partituras musicais. Tudo isso dentro de uma das bancas verdes localizadas entre as duas mãos da ruidosa avenida Santa Fé.
Entretanto para Raúl, o homem dos dentes e poucos cabelos brancos, os livros são um trabalho, não uma paixão, como na maioria dos outros casos de vendedores de livros. “Não me interesso muito por livros quando estou em casa. Leio para poder orientar o público”, diz Raúl do alto de seu banco alto como o de um bar e com os braços apoiados sobre uma biografia de Woody Allen.
As “livrarias-que-vendem-livros-usados” são cor sépia. Como se fosse uma fotografia antiga esquecida em uma caixa em baixo da cama do avô. Os livros destes lugares têm encanto próprio e, ainda que muitas vezes as letras que os recheiam estejam quase apagadas pelo tempo, elas transmitem poesia. Dão a impressão de uma antiga biblioteca, em que os livros podem ser levados para casa sem prazo de devolução.
E como disse Jorge Luis Borges: “Eu sempre imaginei o paraíso, como uma espécie de Biblioteca”.
Como diz a música de Caetano Veloso, os livros são os únicos objetos – os amantes dos livros, por favor, perdoem a frivolidade da palavra - capazes de “lançar mundos no mundo”. Ainda que em Buenos Aires, AR, haja uma a cada duas quadras, os portenhos não inventaram uma palavra em que caiba o significado do que nós, brasileiros, chamamos de sebos. Mas as “livrarias-que-vendem-livros-usados” têm muito mais mundos do que os locais que vendem livros diretamente das editoras. Encontrar uma assinatura antiga, um marcados de páginas, ou um parágrafo sublinhado, são coisas capazes de emocionar a qualquer leitor convicto.
Em uma das tantas livrarias localizadas entre a avenida ‘Callao’ e ‘9 de Julho’, sobre a avenida ‘Corrientes’, com a voz de Bob Marley estourando nas caixas de som e as estantes recheadas de Brecht, Miguel de Cervantes, Kafka, Shakespeare, García Marques, entre milhares de outros autores clássicos, contemporâneos e “de moda”, Sérgio Alvarez passa a semana.
O homem se dedica a vender livros que já tiveram outros donos e já fizeram parte de outras casas. Esse é apenas um dos muitos lugares dedicados a esse negócio. O local não tem nome na frente. Somente uma placa negra com letras brancas que garrafais gritam: “COMPRO LIVROS”. Best Seller, literatura, auto-ajuda, história, filosofia, psicologia, arte e teatro são alguns dos tipos que Mariano Brosky, o dono da “livraria-que-vende-livros-usados” que contém mais de 20 mil exemplares, requer.
“Os livros chegam aqui das formas mais variadas: uma avó que morre, pessoas que se mudam para lugares menores, outras se separam e decidem se desfazer. Também há os que precisam de dinheiro. As pessoas que chegam à livraria com caixas imensas e as que vêm com apenas um livro para trocar por outro”, diz Sergio enquanto vende a um jovem a novela em que os animais tomam o poder e tratam com tirania aos humanos, “ Revolução dos Bichos”, de George Orwell.
Descendo a avenida ‘Corrientes’, pela avenida ‘Talcahuano’, damos de cara com a feira de livros ‘General Lavalle’, entre o Palácio da Justiça e o Teatro Colón, uma instituição Nacional do país dos bons ares. Na feira Juan Fronza passa os dias entre segunda e sexta-feira juntamente com Diana Fronza, sua esposa. “Essa foi a primeira feira de livros de Buenos Aires. Antes estava atrás de Cabildo, faz alguns anos viemos para cá”, diz Diana.
O casal comparte duas cadeiras listradas de praia e se dizem muito contentes de haverem passado a vida entre histórias e romances. “Antes as pessoas liam muito mais neste país. Vinham no início da tarde e olhavam livro por livro. Hoje em dia elas vêm atrás de um título”, reclama entre sorrisos simpáticos que lhe caracterizam, Juan.
“O público é, em geral muito quadrado. Vão no seguro: Borges, García Marquez, etc. Já não arriscam como antigamente”, reflete Sergio Alvarez.
Saindo do centro de Buenos Aires com a linha B de metrôs e depois de fazer conexão com a D, chegamos à praça Itália, no coração do bairro Palermo. Lá está Raúl Rodriguez, presidente de Associação de Livreiros de Buenos Aires. Ele diz que não é que as pessoas sejam propriamente quadradas quando o assunto é literatura. “Em épocas difíceis as pessoas compra somente o conhecido e pré-aprovado. Os livros estão muito caros hoje em dia. Quando as pessoas têm alguns pesos a mais nos bolsos elas arriscam no novo”.
Raúl é um personagem. Além das obrigações que cumpre com os livros há mais de vinte anos, é torneiro mecânico. Deixou a profissão há duas décadas e, desde então, dedica-se a comprar e vender livros, revistas e partituras musicais. Tudo isso dentro de uma das bancas verdes localizadas entre as duas mãos da ruidosa avenida Santa Fé.
Entretanto para Raúl, o homem dos dentes e poucos cabelos brancos, os livros são um trabalho, não uma paixão, como na maioria dos outros casos de vendedores de livros. “Não me interesso muito por livros quando estou em casa. Leio para poder orientar o público”, diz Raúl do alto de seu banco alto como o de um bar e com os braços apoiados sobre uma biografia de Woody Allen.
As “livrarias-que-vendem-livros-usados” são cor sépia. Como se fosse uma fotografia antiga esquecida em uma caixa em baixo da cama do avô. Os livros destes lugares têm encanto próprio e, ainda que muitas vezes as letras que os recheiam estejam quase apagadas pelo tempo, elas transmitem poesia. Dão a impressão de uma antiga biblioteca, em que os livros podem ser levados para casa sem prazo de devolução.
E como disse Jorge Luis Borges: “Eu sempre imaginei o paraíso, como uma espécie de Biblioteca”.
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