quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Um grito pela liberdade

Carolina Marquis
Trabalhadores, desempregados, estudantes, militantes e curiosos se reuniram em frente ao Palácio Piratini para levantar suas bandeiras. O vermelho do PT (Partido dos Trabalhadores) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores), o amarelo do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e do CPERS e o colorido do CTB (Central do Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), entre tantas outras cores e gritos povoavam a rua Duque de Caxias, junto à Catedral Metropolitana de Porto Alegre.

Entretanto, não eram os dizeres que recheavam as faixas o que mais impressionavam, e sim o rosto de cada uma das pessoas que estava no lugar. Naquele dia ensolarado de verão fora de época, às 11 horas da manhã, cada rosto, cada grito, cada desespero individual que se traduzia no coletivo eram as mais expressivas e diversas bandeiras que se viam.

Cerca de 3 mil pessoas das mais diversas regiões do estado e capital marcharam escoltados por um forte aparato policial. Os manifestantes carregaram nove bonecos algemados entre si e feitos em medidas reais. Eles representavam os nove indiciados pelo MPF.

O povo pedia por mudança. Todos diziam um uníssono NÃO às demissões em massa realizados em detrimento da crise econômica mundial que assola os cinco continentes, 80 anos depois da Grande Depressão de 1929. “A crise é dos ricos, mas os pobres é que se fodem”, diziam manifestantes indignados pela forma como o capitalismo se manifesta: prejudicando àqueles que nunca nada tiveram.

A Comunidade Autônoma Utopia e Luta teatralizou o dia-a-dia dos trabalhadores em todo o mundo: muita labuta, muito esforço, muita força direcionada e nenhuma recompensa ou direitos atendidos. Uma cena real a que todos assistimos.

Redução dos juros; fim do superávit primário; redução da jornada de trabalho sem implicações nos salários e direitos do trabalhador; saúde, educação e moradia eram alguns dos pontos que os manifestantes exigiam em cartazes. Entre tantas exigências diferentes, o que mais se fazia notar e era a causa comum: a reivindicação pelo impeachment da governadora do estado Yeda Crusius e do vice-governador Paulo Feijó, além de eleições imediatas.

O movimento foi organizado pela Assembléia Popular, Movimento Sem Terra (MST), Via Campesina, CTB, CUT, Intersindical, Conlutas, Movimento Estudantil, Pastorais Sociais, Consulta Popular, Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Fórum dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul, Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Movimento dos Trabalhadores desempregados (MTD) e gabinete do deputado Adão Villaverde.

“Quem tu colocarias no lugar da Yeda?”, perguntava um teatral integrante do Levante Popular da Juventude. A abordagem não era esperada e as pessoas respondiam com silêncio, sorrisos curiosos ou envergonhados, quando, talvez, não tivessem a resposta. A vontade de mudança quiçá se faça suficiente em um primeiro momento. Depois deve chegar o ponto em que os pensamentos se tornam palavras e a (re)ação seja o próximo passo. Era isso que os manifestantes do Dia Nacional da Luta tentavam fazer naquela manhã. Reuniram-se para juntar forças, para gritar jutos, traduzir em cartazes o que hoje é a vontade das pessoas: os esclarecimentos, a honestidade, o impeachment.

Alguns dos cartazes que diziam “Fora Yeda” foram recolhidos e proibidos de circular pela cidade. “Essa é uma manifestação para tirar a governadora do poder”, gritava Rejane de Oliveira, presidente do CPERS. “Que seja feita a vossa vontade”, respondia timidamente um vendedor de água que passava pelo ato.

Nenhum comentário: