segunda-feira, 25 de maio de 2009

Bato panela por meu filho

Felipe Baierle
Na esquina da Borges com a Andradas uma mãe bate panela para reaver a guarda de seu único filho. Rennan de nove anos está sob a proteção provisória do pai, Irineu de Castro, desde que este o levou para passear em novembro do ano passado. Para reverter essa situação, Janette Zanúncio mãe de Rennan, usa panelas e a criatividade na tentativa de agilizar o processo que, movido por Irineu, decide quem fica com o filho e a pensão alimentícia a que ele tem direito.

Da primeira vez que Janette veio à Porto Alegre em março deste ano, sua intenção era conseguir do Tribunal de Justiça uma ordem para que se marcasse uma audiência de conciliação no caso da guarda de seu filho. O Tribunal foi favorável ao pedido de Janette e a audiência aconteceu em Pelotas no dia 25 de abril deste ano. Como não houve acordo, a juíza da 2ª vara de família, Fabiana Hallal, ordenou que fosse realizado um estudo psicológico com os pais de Rennan.

Essa avaliação psicológica é o próximo passo no andamento do processo e, enquanto a justiça não a chamar para a entrevista com a psicóloga, Janette promete continuar azucrinando com suas panelas na Esquina Democrática.

– Tem gente lá que está esperando há cinco meses para ser chamada para a entrevista – conta.

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Baseado na luta

Felipe Baierle
Cerca de 300 pessoas protestaram pedindo a legalização da cannabis sativa no último dia nove de maio. A Marcha da Maconha teve concentração às 15h em frente ao Monumento do Expedicionário, no Parque Farroupilha, e se limitou a uma caminhada pacífica em torno do chafariz da Redenção. Nenhum maconheiro fez apologia ao uso da droga, o que desrespeitaria o acordo prévio estabelecido entre a Marcha, o Ministério Público e a Brigada Militar, conduta determinante para que a caminhada transcorresse sem violência.

Previsto para acontecer em mais 13 grandes cidades do país, o evento só foi liberado em Porto Alegre graças à um salvo-conduto concedido pelo Ministério Público Estadual (MPE) na pessoa do desembargador Nereu José Giacomolli. Os manifestantes alegaram ao MPE que o objetivo da marcha era apenas discutir a atual política de repressão aos usuários da maconha e propor soluções mais eficazes ao problema, não fazer apologia ao seu uso.

Em resposta à proibição do ato, em algumas cidades como São Paulo, Salvador e João Pessoa, os antiproibicionistas divulgaram nota pública contestando a ação dos MPEs que proibiram a caminhada. Para o Coletivo Marcha da Maconha Brasil, juristas pediram a proibição da mobilização em liminares às vésperas das datas marcadas para dificultar sua defesa jurídica à tempo de realizar o evento.

– Que tristeza se aprovarem isso, se já estão matando várias pessoas por causa dessa porcaria de droga, imagina se liberarem – desabafou dona Juraci da Cunha enquanto observava a movimentação da Marcha na Redenção.

Os antiproibicionistas do coletivo Princípio Ativo, uma das entidades que tocaram a caminhada, viram a questão sob um aspecto diferente. Eles disseram que o governo poderia, caso liberasse a maconha, controlar sua venda e cobrar impostos para financiar investimentos em saúde, educação e cultura; o que, segundo eles, seria muito mais eficaz do que gastar milhões de reais todos os anos na tentativa fracassada de conter o consumo.

Além disso, divulgaram em seu blog que a Marcha foi um sucesso, sem qualquer tipo de delito, até mesmo sob o olhar de manifestantes contrários que a acharam um absurdo, mas dos quais, dizem eles, “por algum motivo, não lembramos direito”.

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Projeto P estreia no bar Ocidente

Carolina Marquis
O “Projeto P”, concebido por Marcelo Pacheco e dirigido por ele e por Raquel Puper, estreiou no dia 13 de maio, às 22h, no Espaço OX, no Bar Ocidente (João Telles esq. Osvaldo Aranha). O espetáculo fica em cartaz nos dias 13, 20 e 27 (quartas-feiras), às 22 horas. Os ingressos custam R$ 15,00 (com direito a uma cerveja).

Marcelo, me fala um pouquinho sobre o Projeto P.
O projeto surgiu do desejo de um grupo de jovens atores em canalizar seu potencial artístico e poder produzir uma montagem que pudesse falar dos temas que nos mobilizam hoje.

E por que "Projeto P", de onde vem esse nome?
Essa é uma pergunta que queremos propositalmente deixar no ar... Cada espectador poderá fazer a sua interpretação. Queremos mais provocar do que explicar.

- Quais são os personagens que se encontram no espetáculo?
O espetáculo promove o encontro de figuras do universo pop, como Paris Hilton, Marilyn Manson, Amy Winehouse, com personagens antológicos do cinema, como Barbarella (vivida por Jane Fonda), Alex (de Laranja Mecânica), Holly Golightly (de Bonequinha de Luxo) e Andréa Cara Cortada (De Kika, de Pedro Almodóvar).
O elenco é composto por Aline Brustolin, Fani Ferreira, Karine Paz, Marcelo Pacheco, Raquel Purper, Ricardo Oswald, Tuti Muller, e participação Especial de Fabio Gonzales .

O que tu e a Raquel Purper querem mostrar com esse espetáculo?Não sei se queremos mostrar algo específico, queremos é trabalhar em cima de coisas que nos mobilizam, por afinidade ou até mesmo repulsa.

Vocês todos têm um trabalho forte com dança, nem todos são efetivamente atores, como é trabalhar com atores/bailarinos em uma peça de teatro?Todos têm formação teatral, mas também em dança, pois a maioria integra também o Grupo Experimental de Dança da Cidade. Muitos fizeram formação no TEPA, outros cursos de teatro e a Raquel é formada pelo DAD/UFRGS e atualmente está no mestrado na mesma Universidade. São experiências que se complementam e trazem um diversidade para a montagem.

Há alguma intenção política na peça?
Tudo que a gente coloca no mundo acaba tendo conotação política, não daquela partidária ou de governo, mas de relações de poder entre as pessoas. Os temas que a gente aborda e o modo como a gente aborda acabam afirmando certas posturas com a vida ou questionando estas posturas.

Todas essas personagens que tu juntas são carregados de enigmas, significados e significantes. O que pode acontecer quando eles se encontram?
Tédio absoluto ou uma fissão nuclear. Eles estabelecem um universo que envolve insatisfação, excitação, simulação, desespero, niilismo. É um mosaico de sensações e situações, que podem promover o riso ou mesmo a impaciência.

Como é dirigir um espetáculo em dupla?
É um desafio permanente e muito saboroso. Por um lado há de se encontrar os pontos de conexão de nossas visões enquanto encenadores, por outro de tirar proveito das divergências. Dá mais trabalho, mas ao mesmo tempo , amplia as possibilidades de trabalho.Além de que é sempre bom ter alguém para dividir as crises que sempre aparecem, para dialogar sobre os dilemas que se apresentam.


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Soma: terapia anarquista

Carolina Marquis
As neuroses de cada um não são geridas somente pelo indivíduo de forma isolada. O entorno, os processos das relações de poder e os micro-circuitos de autoritarismo são também geradores de processos psicológicos enfermos. Desenvolver no homem a capacidade de ser o senhor de sua própria vida, autor de seus desejos e poder assumir de forma plena as decisões que toma é o princípio básico da Soma, uma terapia que ativa as “políticas do cotidiano” e pretende fazer com que o ser seja capaz de viver momentos em que não se permita dominar, nem coaja ninguém a uma situação de inferioridade. Ou seja, momentos de liberdade.

A Soma foi criada pelo médico, psicanalista, autor, diretor de teatro e letrista Roberto Freire. Nasceu de uma pesquisa sobre o desbloqueio da criatividade, realizada no Centro de Estudos Macunaíma, no Rio de Janeiro, com as contribuições de Miriam Muniz e Sylvio Zilber. Durante a Ditadura Militar Roberto achava que as fórmulas tradicionais de psicologia e psiquiatria não eram efetivas no tratamento de companheiros de militância. Roberto buscou abordagens bioenergéticas, no teatro e na dança - atualmente se utiliza a capoeira de angola como forma de expressão e trabalho corporal.

Freire encontrou nos trabalhos do austríaco Wilhelm Reich, discípulo e depois grande crítico de Sigmund Freud, pontos que sentira falta na psicologia e psiquiatria: a tese de que a neurose é também produto de uma situação política social e de que a repressão e as liberdades usurpadas do indivíduo se manifestam através do corpo. “Parte-se do princípio de que o funcionamento da pessoa é integrativo.

Tanto no sentido do indivíduo: não existe divisão mente e corpo, tampouco existe a divisão entre indivíduo e sociedade”, diz Stéfanis Caiaffo, Doutor em Psicologia Social com especialização em Somaterapia através do Instituto Brasileiro de Estudos de Soma. Em cima desse princípio reichiano quase 60 vivências foram criadas por Roberto e pelos pesquisadores do IBES.

As sessões têm a duração de aproximadamente três horas, reúnem entre 10 e 20 pessoas, ocupa um ano e meio da vida dos participantes e são dividas em três partes. Na primeira delas o somaterapeuta – que não tem necessariamente a psicologia como formação inicial – propõe e coordena uma vivência ao grupo. Na segunda parte – chamada de leitura - os integrantes se reúnem e falam sobre as memórias que foram ativadas a partir do exercício vivenciado, as sensações despertadas em cada pessoa.

O somaterapeuta faz uma análise dos resultados da vivência: “através da catarse corporal tu liberas várias emoções e limiares de pensamento”, diz Stéfanis. A terceira parte do encontro é o momento “pedagógico”, em que o somaterapeuta divide com os componentes do grupo a teoria da vivência. Explica quais teorias embasam o conhecimento que o permite realizar a análise da relação e das reações que o grupo desenvolveu a partir da vivência experimentada. Essa última é essencial para a compreensão do que é somaterapia: ela pretende dar aos indivíduos a capacidade de autogestão.

“Roberto achava que os processos psicanalíticos eram muito longos, muito caros e, portanto, elitistas”, afirma Caiaffo “a somaterapia é interessante porque ‘abre a fonte’. Dá ao grupo o suporte teórico que permite com que cada um faça uma auto-análise”. E completa: “nós partimos do princípio de que todo ser é agressivo por natureza. Há que se ser agressivo para correr atrás dos objetivos de vida”. Segundo as teorias somaterapeuticas, a violência é gerada pela agressividade reprimida. A soma pretende fazer com que o indivíduo perceba a sociedade como um “laboratório”, e que ele seja capaz de viver o anarquismo em suas micro-relações.

Roberto Freire
“O amor, e não a vida, é o contrário da morte”. Freire nasceu no ano de 1927, no dia 18 de janeiro e amou até 2008, com 81 anos completos. Formou-se em Medicina, na Universidade do Brasil/RJ em 1952. Em 1953 foi trabalhar no Collège de France, em Paris, desenvolvendo trabalhos de endocrinologia experimental e, anos mais tarde fez sua formação psicanalítica na Sociedade Brasileira de Psicanálise/SP. A partir desse período Freire começou a pesquisa em bioenergética com discípulos de Wilhelm Reich, que gerou o início do estudo da Somaterapia.
Desenvolveu também atividades no campo cultural: sobretudo em teatro e poesia. Dirigiu peças de teatro, trabalhou com televisão e é autor dos livros “Sem tesão não há solução”, “Utopia e Paixão”, entre outros títulos.
Considerou a somaterapia a sua maior contribuição à humanidade.

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Cpers quer novas eleições para salvar o RS e pede impeachment de Yeda Crusius

Felipe Baierle
Cerca de dois mil manifestantes realizaram uma marcha que saiu da Casa do Gaúcho e se dirigiu até o Palácio Piratini no último dia 14 de maio. Os professores, movimentos sociais, partidos e ativistas cantaram aos brados gritos como “Ei, Yeda, pede pra sair”.

A chuva constante e gelada que caiu durante todo o ato não conteve a caminhada iniciada às 10h30. Vários cartazes de denúncia e palavras de ordem animaram os manifestantes que não tiveram medo da chuva.

O Cpers se baseia nas frequentes acusações feitas e refeitas à governadora, como da revista Veja por exemplo, para pedir que ela saia do comando do Estado.

– Hoje nós vemos as provas, e elas mostram que essa governadora, de fato, não tem condições de estar à frente do Rio Grande. Ela envergonha a história do nosso estado, e se continuar dentro do palácio, vai atrapalhar as investigações. Ela precisa sair já – discursou a presidente do Cpers, Rejane Oliveira.

Também falaram no carro de som, partidos como PSTU e PSOL, além de alguns sindicatos aliados a causa da ética no Rio Grande do Sul. Nos próximos dias o Cpers promete continuar se movimentando contra Yeda. Os aliados do Sindicato continuam aumentando. Cada vez mais escolas participam dos atos e mais professores se sentem ameaçados com a retirada de direitos sinalizada pelo governo com a possibilidade de revisão do plano de carreira dos professores estaduais.

É como diz a propaganda do Cpers na televisão: agora vai pegar fogo.

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Movimentos planejam acampamento em Santa Maria no início de julho

Felipe Baierle
Nos últimos dias dois e três de maio no Centro Estadual de Formação do MST em Viamão, militantes de diversos campos iniciaram a organização do Acampamento Filhos de Sepé. O evento será realizado em Santa Maria de nove a doze de julho e contará com a juventude do campo e da cidade do Movimento dos Sem Terra, Atingidos por Barragens, Pequenos Agricultores, Trabalhadores Desempregados e Levante Popular da Juventude, entre outros.

A auto-organização pretende marcar o acampamento que tem como um dos objetivos promover um estudo intensivo da situação política e social brasileira. Lorena Castillo, representante da Via Campesina que também está contribuindo com a organização do evento, disse que o encontro reunirá pessoas com e sem experiência de participação em movimentos sociais.

– Queremos reunir as referências e movimentos para construção do acampamento e mostrar que existem alternativas de organização popular aos problemas da sociedade – lembrou.

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Troca do vestibular por Enem ainda contestada

Gustavo Nunes e Leila Garcia
O Exame Nacional de Ensino Médio terá um novo modelo no ano que vem, conforme anúncio do MEC. O objetivo é o vestibular em universidades públicas como prova única para ingresso em todo o país. Ele visa ainda servir como critério de pontuação para ingresso nas universidades privadas e nos centros universitários. As escolas ainda divergem sobre a medida.

Na Unisinos, a porcentagem disponível para os candidatos em cursos de graduação é de 10%. No IPA, a reserva é de 20. As duas utilizam o mesmo parâmetro de substituição do vestibular pelo Enem, pela conversão dos pontos em conteúdos equivalentes.

De acordo Daniela Horta, da Unidade de Graduação da Unisinos, “a equivalência das notas do Enem é expressa numa escala de 0 a 100 pontos, mas na conversão será utilizada a escala de 0 a 10 pontos, igualando-se a escala de notas utilizada pelo vestibular”.

A redação e questões objetivas serão substituídas por redação e conhecimentos gerais do Enem. A Unisinos e o IPA estão entre as mais de quinhentas instituições cadastradas no Ministério da Educação e Cultura que utilizam o Enem como método de pontuação.

A alteração na prova do Enem é caracterizada pela substituição da redação e 63 questões objetivas de conhecimentos gerais, consideradas de conteúdo interdisciplinar, por 200 questões objetivas e discursivas, abrangendo quatro áreas de conhecimento: matemática, português, ciências naturais e ciências humanas, além da redação.

Além de substituir o vestibular, o novo Enem deve ser usado como parte do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).. Atualmente, são escolhidos alunos do primeiro e último ano de todos os cursos de graduação, de forma aleatória, para realizar a prova. A intenção do MEC é que os jovens que fizerem o novo Enem sejam dispensados do Enade, realizando as provas apenas no último semestre. Dessa maneira, o Enade passa a ser obrigatório para todos os alunos, calouros e formandos dos cursos avaliados.

No Rio Grande do Sul, a primeira universidade a aderir ao Enem como forma única de processo seletivo foi a Federal de Pelotas, no verão de 2009. A Unipampa e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre passarão a utilizá-lo em 2010. A UFRGS ainda está indecisa e promete decisão até julho.

A Universidade Federal de Rio Grande adotará em 2010 o Enem para 50% das vagas e verstibular para os outros 50. A Federal de Santa Maria se mostra contrária ao Enem.

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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Liberdade de imprensa

Leila Garcia
A data três de maio registrou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Com base no artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos, todos têm direito à liberdade de opinião e expressão, o que inclui a liberdade de procurar, receber e transmitir informações, independente de fronteiras ou dos meios utilizados para tal.

Conforme dados da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), em 2008 foram 60 jornalistas e um colaborador de veículo midiático morto no exercício da profissão, sendo o Iraque, o Paquistão e as Filipinas os países com maior incidência.

Há ainda, fatores como o domínio econômico entre as empresas de comunicação e a possibilidade do Estado de intervir na divulgação da informação, definindo o que é ou não de interesse público que podem impedir o exercício pleno da liberdade de imprensa. Porém, é necessário atentar para que este direito seja pautado pela atuação com base na ética e no interesse social, e que a liberdade de imprensa não sirva como justificativa de falhas e, sim, como motivo para conquistas.

Este ano, o Brasil amarga também a revogação da lei de imprensa que regulamentava o fazer jornalístico e direitos do cidadão como o Direito de Resposta, agora extinto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os crimes de calúnia, injúria e difamação, à responsabilidade civil do jornalista e da empresa que explora os meios de comunicação ou divulgação, eram temas tratados nos artigos suspensos, que antes resultavam em mais armas de defesa aos cidadãos. A partir de agora, cabe a justiça comum através dos Códigos Penal e Civil julgar possíveis crimes cometidos pelos profissionais da imprensa no exercício das suas atividades.

Ainda aguarda o julgamento do STF a exigência de diploma para os jornalistas. A obrigatoriedade de diploma de curso superior na área está aliada ao desempenho da atividade normalizada com base em preceitos éticos e padrões profissionais. Querem desvincular a profissão de jornalista, base de uma sociedade democrática com o argumento de que todos poderiam exerce-la.

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Trabalhadores prejudicados no 1° de maio

Felipe Baierle
Ambulantes vendedores de lanches e bebidas que estavam no Anfiteatro Pôr do Sol no dia 1° de maio foram prejudicados por Brigadianos que os obrigaram a abandonar seus pontos de venda. Por volta da uma da tarde, grupos de três PMs concentraram os ambulantes à apenas alguns metros dos banheiros químicos instalados para o uso do público no local.

Atraídos pela comemoração do Dia do Trabalhador, alguns vendedores chegaram com mais de duas horas de antecedência à festa organizada pela Força Sindical. Nenhum dos sindicalistas da Força ou mesmo o deputado estadual Mano Changes, que apresentava show no evento, tentou ajudar os ambulantes.
“Para trabalhar no Brasil, é preciso ter força e fé” foi o tema da comemoração da Força Sindical esse ano. Segundo a BM cerca de 40 mil pessoas teriam passado pelo anfiteatro durante a sexta-feira do último Dia do Trabalhador.

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Um país de brancos: a vida dos imigrantes africanos na Argentina

Carolina Soares Marquis
Daniel está de segunda a segunda na labuta. Passa os dias lutando para aprender o Espanhol, que não é sua língua mãe. Se retrai ante as primeiras perguntas e só depois de duas ou três tentativas aceita conversar sobre sua travessia pelo Oceano Atlântico. De toda maneira, Daniel como todos os demais, disse que prefere não revelar seu sobrenome.

Ele é apenas um dos imigrantes africanos que, segundo dados que constam no Coincet (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas Y Técnicas), configuram na Argentina uma população de cinco a dez mil habitantes.

Daniel veio só de Gana há sete anos. Um ano depois de ter vindo, chegou também sua mulher e filho que, quando o tinha deixado na África, ainda estava mamando no peito. Vieram em busca de novas perspectivas econômicas e também para que seu filho e eles tenham um futuro melhor, oportunidade de ter uma boa educação e melhores condições de vida.

Aos 40 anos se dedica a vender relógios, pulseiras e produtos similares na rua, em frente ao Centro Comercial Abastos. Ao seu lado está seu conterrâneo Sam, que chegou a Argentina vindo de Gana a quatro meses e precisa do amigo Daniel para comunicar-se com seus possíveis consumidores. Sam não sabe se terminará sua imigração aqui, na Argentina, ou se continuará rumo a outro país.

– As pessoas não me tratam muito bem aqui. Já escutei muitos comentários referentes a minha cor. Nem sempre entendo o que dizem, mas pelo tom da voz me dou conta que não me dizem coisas lindas – confessa o jovem de apenas 20 anos.

Miriam Gomes, pesquisadora da Sociedade Caboverdana, disse que uma das características da última onda migratória é que muitos dos imigrantes “vêm, mas se vão em seguida”, em uma renovação constante da população africana.

“Chegam todos os dias”, disse Miriam que, através de seu trabalho na Sociedade, supõe que a maioria dos africanos chega pela fronteira com o Brasil.

Não existem números que detalhem a quantidade de africanos que chegam a Argentina, mas a estimativa é de que seria ao menos um por dia. Dessa maneira é facilmente visível nas ruas de Buenos Aires a grande quantidade que vem ao país para dedicar-se ao comércio de rua com suas bugigangas sobre barracas ou sobre bancos de praça. Esta é a solução para sua sobrevivência.

Na esquina da frente, alguns metros à esquerda está Steve, que vive na Argentina há um ano e três meses. Steve tem a fala fácil e rápida e está muito confortável ao lado de dois de seus amigos africanos. Ele conta que viveu os quatro últimos anos no Rio de Janeiro.

– Vim à Argentina porque aqui é mais fácil conseguir os papéis para o visto, mas eu amo o Brasil. As pessoas lá são muito diferentes dos argentinos. Tenho muitos amigos brasileiros e nenhum argentino – relata Steve.

Entre os três coincide a mesma opinião sobre os argentinos: “Não são pessoas muito sociáveis. Não com nós, pelo menos”. Sentem que os argentinos os temem. Nenhum tem amigo local e todos os companheiros são também imigrantes.

Mesmo que não seja um trabalho fácil, nenhum dos três reclama dos resultados econômicos que obtém.

– Eu vivo com mais três amigos aqui. Estamos um pouco apertados, mas eu não posso dizer nada. Se o vendedor sabe como se aproximar das pessoas esse trabalho trás bons resultados – explica Steve.

Segundo o Senso de 2001 realizado na Argentina, 4,9 % da população provém de paises limítrofes, mas a pesquisadora Miriam explica que a imigração africana na Argentina tem aumentado muitíssimo nos últimos anos “sobretudo depois da queda do Muro de Berlim e ante a uma Europa que se mostrou mais racista do que nunca”.

– Dizem que nós que viemos da África já somos algo entre dez mil – Steve se pergunta com um tom de exaltação – Mas, se somos dez mil, onde estão os negros nesse país de brancos?

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