quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Imigrante: o bode expiatório da Europa

De Paris, França, Ana Ferreira

No dia 18 de junho, foi aprovada pela União Européia (UE) a chamada “Diretiva de Retorno”, nova lei contra a imigração ilegal nos 27 países membros da UE. A norma foi criada, segundo o vice-presidente da Comissão Européia (CE, órgão executivo da UE), Jacques Barrot, para estimular o “retorno voluntário” dos imigrantes em situação irregular até 2010, quando a lei entra em vigor.
Caso não ocorra o retorno, o imigrante sofrerá então as penas da lei, que será aplicada igualmente a mulheres, crianças e idosos. A pena de detenção para os ilegais pode chegar até 18 meses no país, antes de ser deportado. Neste caso, lhe será proibida a entrada em qualquer dos países do bloco por um período de cinco anos.Apesar de inúmeras críticas, manifestações e protestos, a diretiva, que chegou e ser chamada pelos opositores de “diretiva da vergonha”, passou.
Na França
Na liderança do Parlamento Europeu, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, declarou em 30 de junho, dias antes de serem detalhadas as idéias da tal diretiva, que “a França, ou a Europa, não vão aceitar toda a miséria do mundo”.
Além dessa infame pronunciação que considera o imigrante como um resto a ser rejeitado, Sarkozy ainda sugere a ampliação da política francesa de “imigração seletiva”, que incentiva a entrada de profissionais estrangeiros qualificados e tranca as fronteiras aos imigrantes “não qualificados”.
No Brasil
Assim como outros presidentes latino-americanos, o presidente Lula também se manifestou contra a nova lei. Em São Paulo, dia 24 de junho, em evento para discutir políticas de direitos humanos, Lula disse que “o vento frio da xenofobia sopra mais uma vez para o desafio da sociedade”. Para ele, a solução dos problemas europeus não está em impedir a imigração, mas sim, em ajudar o desenvolvimento das nações mais pobres.

Se fossem investidos esforços solidários de ajuda aos países de onde vêm esses imigrantes, provavelmente diminuiriam as razões pelas quais eles deixam seus países. E sem dúvida, grande parte da pobreza da qual fogem essa pessoas é fruto de uma história de exploração, no caso da América Latina e África ou guerras, como no Oriente Médio, dentre outros problemas internacionais não resolvidos até hoje.

Liberdades Convenientes
Enquanto a idéia de liberdade de mercado é exaltada e imposta mundo a fora, a liberdade de circulação dos indivíduos é evitada e, no caso da presente diretiva, quando determina a prisão por até 18 meses do imigrante sem documentos, fere o artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que diz que “Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar”.

A União Européia está propondo a Comunidade Andina de Nações (Bolívia, Colômbia, Equador e Peru) um “Acordo de Associação” que inclui no seu terceiro pilar um Tratado de Livre Comércio. Evo Morales, presidente da Bolívia, expressou em carta aberta intitulada de “El papel real de los migrantes” que os bolivianos estão sendo duramente pressionados para aceitar condições de profunda liberação do comércio, dos serviços financeiros, da propriedade intelectual e dos serviços públicos - água, gás e telecomunicações, nacionalizados no Dia Mundial dos Trabalhadores.

A UE questiona a “segurança jurídica” no fato das nacionalizações. A isso, Evo responde: “e onde está a “segurança jurídica” para nossas mulheres, adolescentes, crianças e trabalhadores que buscam melhores horizontes na Europa?

Promover a liberdade de circulação de mercadorias e finanças enquanto vemos o encarceramento sem juízo para nossos irmãos que trataram de circular livremente. Isso é negar os fundamentos da liberdade e dos direitos democráticos”.

Bela Retribuição

A Europa, mãe da primeira carta dos Direitos Humanos, a França da igualdade, da liberdade e da fraternidade retrocedem o pensamento e esquecem tudo que passaram. Esquecem dos difíceis momentos de guerra quando tiveram asilo na América Latina que deu acolhida sem pedir nem negar papéis, que até hoje homenageia e valoriza a imigração que contribuiu culturalmente e ajudou a formar nações. Fecham-nos as portas, esquecendo tudo que nos devem e que, pelo jeito, não pretendem pagar.

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O Direito de Lutar - Capítulo II

Felipe Baierle


Resumo do último capítulo
Eduardo Sagaz acorda em um motel luxuoso acompanhado de duas pessoas ilustres. Assustado por não lembrar como chegou àquela situação, resolve dar no pé antes que algo pior aconteça. Na saída do motel, desesperado, se prepara para atropelar o sólido portão de ferro do local.No apartamento JK situado no centro da cidade, os companheiros de Eduardo Sagaz aguardam sua chegada. Ao serem surpreendidos por batidas na porta ouvem o aviso do visitante: é a polícia, abra a porta!
Capítulo II

Eduardo Sagaz fixou os olhos no portão de ferro a sua frente. Mil pensamentos o atormentavam procurando por respostas. Seu esforço, aos poucos ia sendo recompensado por clarões de memória. Parecia o trailer de um filme pornô de extremo mau gosto.
Imagens desconexas aos poucos inundavam sua mente. Mas a resposta não vinha. Qual era o seu objetivo naquela noite transformada em ménage à trois? Quanto mais tentava lembrar do motivo verdadeiro daquela lambança, mais as cenas nojentas se entranhavam na sua cabeça. Continuou na ansiedade esmagadora, enquanto olhava fixamente para o portão.
Provavelmente, fora a bebedeira da noite anterior que apagou suas lembranças. Ficar ali, parado em frente à saída não iria ajudá-lo. Então, resolveu prosseguir no seu intento de derrubar o portão e ir para casa o mais rápido que pudesse.
Roncou o motor do carro, engatou a primeira marcha e acelerou. Pisou até o mais fundo que ia seu acelerador. A batida com certeza seria escandalosa. Ao chegar a poucos metros do portão fechou os olhos. O carro avançou, avançou e finalmente... estava fora do motel de luxo!
Rapidamente, querendo entender o que foi que o salvou, Saga, como os amigos o chamavam, virou para traz e viu o portão se fechando automaticamente.
- Mas é claro, como não notei antes! Todos esses motéis de luxo devem ter dispositivos assim. Com certeza, tem algum censor eletrônico ou câmera que abra o portão principal e permita a saída automaticamente. Mas, como fazem então para que os clientes paguem antes de sair? – indagou-se.
Aturdido, Eduardo sai do carro para ver melhor o lugar de onde havia saído. Era na verdade, uma imensa casa de dois pavimentos. Havia muitas rosas brancas no jardim e no pequeno gramado em frente à mansão. A vizinhança também era extremamente abastada. Agora sabia: não estava em um motel, mas em alguma casa situada na parte nobre da cidade.
De repente, tudo ficou claro para Eduardo Sagaz. Onde estava, qual o objetivo da noite anterior. Tudo. O plano estava seguindo como o esperado. As provas haviam sido geradas e agora estavam a salvo.
– Um mundo mais justo está a caminho, nem que seja na marra – suspirou Saga, com um sorriso triunfante no rosto. Enquanto dirigia para casa, Saga olhou pelo espelho retrovisor e não pôde deixar de escapar um riso ao notar que tinha surrupiado as roupas do vice-governador. Agora ele estava, assim como a ilustre dama, nas mãos do novo mr8, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro.

No centro da cidade...

No apartamento JK de Eduardo Sagaz, uma tensão infinita fazia suar os três estudantes de Ciências Sociais. Alguém batia na porta, insistindo para que fosse aberta. E o pior, dizia ser da polícia. Se a polícia descobrisse o plano, estaria tudo arruinado. Todos os meses de preparação iriam por água abaixo.
- A senha não é essa. Fudeu, fudeu vamos fugir! – sussurrou Aurélio com sua voz grave. Seus olhos arregalados giravam para todos os lados, estava visivelmente descontrolado. Era fácil fugir do apartamento JK de Eduardo Sagaz. Havia um plano de fuga que todos conheciam. Mas, só era para ser usado em último caso, como medida de emergência. Além disso, só funcionaria uma vez. Se utilizassem em vão, não poderiam voltar a fugir da mesma forma.
- Se isso não é uma emergência, então não sei o que é – Continuou Aurélio ao perceber a indecisão de suas camaradas, Alice e Sofia. Elas sabiam que não era possível serem descobertas tão cedo. Mal tinham finalizado a primeira parte do plano.- Fala com ele Sofia, pergunta o que o policial quer – miou a tímida Alice, se aproveitando da coragem da amiga. Sofia era realmente a mais destemida do grupo. Queria sempre partir para a radicalização. E aceitou com o olhar seguro o pedido de Alice.
- Eu vou, saia da frente Aurélio. Eu vou falar com ele.
- Não! Tá maluca, eles descobriram o plano e vão nos prender.
A força do desprezo no olhar de Sofia foi tão grande que Aurélio se afastou, parecendo envergonhado. Sofia abriu a porta. Logo a sua frente, estava um homem gordo aparentando seus 60 anos. Mas não estava com o uniforme da polícia. Nem trazia qualquer arma. Na sua cara azeda estava estampada realmente a figura de um Brigadiano. Mas fora isso, não havia mais nada a temer.
- Sim, o que o senhor gostaria? - Perguntou Sofia, já muito mais aliviada.
- Olha aqui mocinha, eu sou da polícia e vou entrar no seu apartamento para fazer algumas averiguações – instantaneamente, Alice e Aurélio correram pelo apartamento escondendo anotações e papéis importantes que os pudesse incriminar.
Sofia tentou ganhar tempo para os amigos, – Quero ver o seu mandado, senhor.
- Menina, sabia que eu tenho idade para ser seu pai? – E se afaste logo que eu vou entrar – disse e fez. Afastou Alice para o lado com seu braço e foi logo xeretando pelo apartamento. Olhou em baixo da mesa, atrás dos armários e finalmente foi para a cozinha.
Alice se aproximou de Sofia e cochichou em seu ouvido: - Foi lá que escondemos os nossos documentos! - Sofia ficou pálida. Se encontrassem aquilo estariam todos presos. E tentar dissuadir o homenzarrão sexagenário estava fora de cogitação.
- Aurélio, tu é o único homem aqui. Vê se toma alguma atitude – Ordenou a corajosa Sofia.
- Vocês não quiseram fugir, agora estamos ferrados. Eu não vou fazer porra nenhuma.– Retrucou Aurélio, e cruzou os braços simbolicamente.
Ao cabo de alguns minutos, o velho ressurgiu na sala onde se encontravam todos os três estudantes. Seu rosto vibrava de contentamento. Nas suas mão, todos podiam ver um papel meio amassado e sujo. Exatamente a aparência dos documentos do MR8.

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terça-feira, 26 de agosto de 2008

Filme uruguaio fala de esperanças e sonhos

Lisarb D'Oco
O filme O Banheiro do Papa (El Baño Del Papa) conta uma história de sonhos e outros milagres. Dirigido pelos uruguaios Enrique Fernándes e César Charlone, o longa apresenta como protagonista o personagem Beto (Cesar Troncoso), um contrabandista que vive em uma pequena cidade do Uruguai que faz fronteira com o Brasil.

A trama se passa em 1988, quando o Papa João Paulo II visita a América Latina e passa pela pobre cidadezinha de Melo. Entusiasmados com a notícia os moradores de lá abastecem as suas casas de comida para vender aos fiéis que virão. Beto também quer aproveitar a oportunidade e tem a idéia de construir um banheiro, e para isso vai precisar fazer muitas viagens ao país vizinho para trazer mercadorias.

Na história, o maior representante da Igreja Católica vem do primeiro mundo para passar fé e esperança á população tão humilde e trabalhadora daquela região. A mídia acaba impulsionando a expectativa destes moradores, arrisca número excessivo de visitantes, aumentando a esperança de boas vendas no evento.

A graça e o drama se misturam durante o filme, por trás se passam as contradições que toda sociedade tem, o poder e a submissão. Para ver o trailler e outras informações basta acessar o site oficial do filme:

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A voz do morro

Briani Tones

O movimento de rádios comunitárias no Brasil é um fenômeno do país a partir dos anos de 1980. Mas, ao contrário de outros setores do movimento popular, a confusão entre identidades afetou diretamente a constituição da forma organizada destes ativistas. Em rádios comunitárias, cabemos todos, com distintas motivações e projetos. A heterogeneidade é positiva, mas a falta de objetivo estratégico gera a profusão de posições mescladas.

Somos mais de 15.000 rádios, trabalhando com os dados do Ministério das Comunicações, somando a estimativa dos próprios ativistas de rádios. Neste montante, incluímos emissoras com outorga, com pedido de outorga, àquelas lacradas e apreendidas e também as rádios funcionando sem nenhuma garantia legal. Na média, uma emissora comunitária movimenta de 20 a 50 pessoas.


O problema termina sendo conceitual. As rádios comunitárias no projeto e na motivação é uma minoria dentro do contexto geral. A base das rádios é composta por radioamantes e não por militantes. Boa parte dos animadores de rádios tem compromissos e participação social em vários níveis. Daí a ser uma participação política no sentido do antagonismo de classe, vai um largo trecho.

Ainda assim, na estimativa mais modesta, o conjunto das rádios comunitárias movimenta a mais de 300.000 ativistas-comunicadores diretos. Estão na ponta da luta pela democracia na comunicação brasileira. Muitas vezes nem sabem onde se posicionam, e ganham maior consciência quando ocorre repressão da Anatel/Polícia Federal. Tipificando as emissoras de uma forma mais geral, temos:

- Rádios Comunitárias, mesmo não funcionando conforme o projeto, têm a intenção de funcionamento democrático
- Rádios Livres, emissoras que não estão em busca do amparo legal nem de recompor o tecido social. Ainda assim, tem importante papel ao confrontar o coronelismo eletrônico.
- “Picaretárias”, é a gíria empregada pela militância das rádios comunitárias para quando uma emissora de intenção comercial entra na brecha da lei, briga pela outorga, mas de fato funciona com todas as práticas das comerciais, e geralmente tem representantes políticos como seus padrinhos.

Aqui na radio A Voz do Morro acreditamos em um modelo de rádio comunitária voltado para a militância social e a comunidade, fortalecendo as iniciativas locais e a participação nas questões que digam respeito a comunidade.


CONTATO


http://www.avozdomorro.blogspot.com/
avozdomorro@hotmail.com

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