quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O Direito de Lutar - Capítulo II

Felipe Baierle


Resumo do último capítulo
Eduardo Sagaz acorda em um motel luxuoso acompanhado de duas pessoas ilustres. Assustado por não lembrar como chegou àquela situação, resolve dar no pé antes que algo pior aconteça. Na saída do motel, desesperado, se prepara para atropelar o sólido portão de ferro do local.No apartamento JK situado no centro da cidade, os companheiros de Eduardo Sagaz aguardam sua chegada. Ao serem surpreendidos por batidas na porta ouvem o aviso do visitante: é a polícia, abra a porta!
Capítulo II

Eduardo Sagaz fixou os olhos no portão de ferro a sua frente. Mil pensamentos o atormentavam procurando por respostas. Seu esforço, aos poucos ia sendo recompensado por clarões de memória. Parecia o trailer de um filme pornô de extremo mau gosto.
Imagens desconexas aos poucos inundavam sua mente. Mas a resposta não vinha. Qual era o seu objetivo naquela noite transformada em ménage à trois? Quanto mais tentava lembrar do motivo verdadeiro daquela lambança, mais as cenas nojentas se entranhavam na sua cabeça. Continuou na ansiedade esmagadora, enquanto olhava fixamente para o portão.
Provavelmente, fora a bebedeira da noite anterior que apagou suas lembranças. Ficar ali, parado em frente à saída não iria ajudá-lo. Então, resolveu prosseguir no seu intento de derrubar o portão e ir para casa o mais rápido que pudesse.
Roncou o motor do carro, engatou a primeira marcha e acelerou. Pisou até o mais fundo que ia seu acelerador. A batida com certeza seria escandalosa. Ao chegar a poucos metros do portão fechou os olhos. O carro avançou, avançou e finalmente... estava fora do motel de luxo!
Rapidamente, querendo entender o que foi que o salvou, Saga, como os amigos o chamavam, virou para traz e viu o portão se fechando automaticamente.
- Mas é claro, como não notei antes! Todos esses motéis de luxo devem ter dispositivos assim. Com certeza, tem algum censor eletrônico ou câmera que abra o portão principal e permita a saída automaticamente. Mas, como fazem então para que os clientes paguem antes de sair? – indagou-se.
Aturdido, Eduardo sai do carro para ver melhor o lugar de onde havia saído. Era na verdade, uma imensa casa de dois pavimentos. Havia muitas rosas brancas no jardim e no pequeno gramado em frente à mansão. A vizinhança também era extremamente abastada. Agora sabia: não estava em um motel, mas em alguma casa situada na parte nobre da cidade.
De repente, tudo ficou claro para Eduardo Sagaz. Onde estava, qual o objetivo da noite anterior. Tudo. O plano estava seguindo como o esperado. As provas haviam sido geradas e agora estavam a salvo.
– Um mundo mais justo está a caminho, nem que seja na marra – suspirou Saga, com um sorriso triunfante no rosto. Enquanto dirigia para casa, Saga olhou pelo espelho retrovisor e não pôde deixar de escapar um riso ao notar que tinha surrupiado as roupas do vice-governador. Agora ele estava, assim como a ilustre dama, nas mãos do novo mr8, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro.

No centro da cidade...

No apartamento JK de Eduardo Sagaz, uma tensão infinita fazia suar os três estudantes de Ciências Sociais. Alguém batia na porta, insistindo para que fosse aberta. E o pior, dizia ser da polícia. Se a polícia descobrisse o plano, estaria tudo arruinado. Todos os meses de preparação iriam por água abaixo.
- A senha não é essa. Fudeu, fudeu vamos fugir! – sussurrou Aurélio com sua voz grave. Seus olhos arregalados giravam para todos os lados, estava visivelmente descontrolado. Era fácil fugir do apartamento JK de Eduardo Sagaz. Havia um plano de fuga que todos conheciam. Mas, só era para ser usado em último caso, como medida de emergência. Além disso, só funcionaria uma vez. Se utilizassem em vão, não poderiam voltar a fugir da mesma forma.
- Se isso não é uma emergência, então não sei o que é – Continuou Aurélio ao perceber a indecisão de suas camaradas, Alice e Sofia. Elas sabiam que não era possível serem descobertas tão cedo. Mal tinham finalizado a primeira parte do plano.- Fala com ele Sofia, pergunta o que o policial quer – miou a tímida Alice, se aproveitando da coragem da amiga. Sofia era realmente a mais destemida do grupo. Queria sempre partir para a radicalização. E aceitou com o olhar seguro o pedido de Alice.
- Eu vou, saia da frente Aurélio. Eu vou falar com ele.
- Não! Tá maluca, eles descobriram o plano e vão nos prender.
A força do desprezo no olhar de Sofia foi tão grande que Aurélio se afastou, parecendo envergonhado. Sofia abriu a porta. Logo a sua frente, estava um homem gordo aparentando seus 60 anos. Mas não estava com o uniforme da polícia. Nem trazia qualquer arma. Na sua cara azeda estava estampada realmente a figura de um Brigadiano. Mas fora isso, não havia mais nada a temer.
- Sim, o que o senhor gostaria? - Perguntou Sofia, já muito mais aliviada.
- Olha aqui mocinha, eu sou da polícia e vou entrar no seu apartamento para fazer algumas averiguações – instantaneamente, Alice e Aurélio correram pelo apartamento escondendo anotações e papéis importantes que os pudesse incriminar.
Sofia tentou ganhar tempo para os amigos, – Quero ver o seu mandado, senhor.
- Menina, sabia que eu tenho idade para ser seu pai? – E se afaste logo que eu vou entrar – disse e fez. Afastou Alice para o lado com seu braço e foi logo xeretando pelo apartamento. Olhou em baixo da mesa, atrás dos armários e finalmente foi para a cozinha.
Alice se aproximou de Sofia e cochichou em seu ouvido: - Foi lá que escondemos os nossos documentos! - Sofia ficou pálida. Se encontrassem aquilo estariam todos presos. E tentar dissuadir o homenzarrão sexagenário estava fora de cogitação.
- Aurélio, tu é o único homem aqui. Vê se toma alguma atitude – Ordenou a corajosa Sofia.
- Vocês não quiseram fugir, agora estamos ferrados. Eu não vou fazer porra nenhuma.– Retrucou Aurélio, e cruzou os braços simbolicamente.
Ao cabo de alguns minutos, o velho ressurgiu na sala onde se encontravam todos os três estudantes. Seu rosto vibrava de contentamento. Nas suas mão, todos podiam ver um papel meio amassado e sujo. Exatamente a aparência dos documentos do MR8.

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