Qual a relação entre Brasil e Angola? Ambos foram colonizados pelos portugueses, têm grande diversidade cultural e religiosa, apresentam alto índice de desigualdade social e, desde 2006, compartilham um jovem determinado, chamado Segunda Eduardo Tomás Tavares.
Segunda Tavares é um angolano de 26 anos que veio ao Brasil em 2006 para realizar o sonho de cursar o Ensino Superior. A oportunidade surgiu de um convênio entre a Igreja Metodista de Angola e a do Brasil, que oferecia 12 vagas concorridas entre quatro mil estudantes. Durante três meses, Segunda participou do processo de seleção e foi aprovado para receber a bolsa. A partir de então, sua perspectiva de vida mudou.
Angola possui apenas uma universidade pública e dispõe de faculdades particulares que cobram dez vezes mais que o valor do salário mínimo angolano. Diante de tais condições, o acesso ao ensino superior se faz quase impossível à grande parcela da população que vive na pobreza. Segunda morava na periferia da capital de Angola, Luanda. Sua família migrou do interior para a cidade em função da guerra civil que castigou o país entre 1975 e 2002. Apesar de algumas divergências, ele milita no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), um dos partidos responsáveis pela independência do país. “A política de lá é complicada assim como a do Brasil. Mas eu ainda acredito. É impossível não participar da vida política do país”.
Segunda tem um irmão e duas irmãs. Todos estudam ou trabalham graças ao incentivo do pai, professor do ensino primário. Ele lembra que a condição das escolas que freqüentavam eram precárias, mas o pai sempre os encorajou a seguir em frente. Ele terminou o Ensino Médio e trabalhou como professor de química por três anos. A mãe é camponesa e cuida de um pequeno sítio, que em Angola, chama-se “lavra”.
No Brasil, Segunda tem moradia e alimentação garantidas na casa do estudante do Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (IPA). Apesar da paixão pela Enfermagem, ele estuda Administração e Ciências Contábeis, cursos com grande demanda de profissionais em Angola. Seus dias baseiam-se em freqüentar a faculdade de manhã e de noite, e estudar na parte da tarde. Além disso, faz um curso técnico para locutor de rádio e, nos fins de semana, joga futebol com africanos e brasileiros, vai à Igreja, e ao cinema quando sobram algumas economias.
Uma das coisas que o angolano mais estranhou no Brasil é a relação entre as pessoas. Para ele, os brasileiros são muito resguardados. Segunda conta que em Angola, a vida comunitária é bem mais forte. “A pessoa que mora ao teu lado é a primeira que vai te ajudar quando estiver em dificuldade. Fazemos isso com a maior naturalidade. Talvez pela extrema pobreza em que vivemos, aprendemos a conviver assim”.
Em terras brasileiras, seus maiores amigos são os colegas intercambistas e os membros da Associação dos Missionários da América do Sul. Ele passou a freqüentar esta Associação porque encontrou mais jovens do que na Igreja Metodista. “No Brasil as igrejas são vazias e têm poucos jovens. Em Angola existe mais irmandade, mais intensidade e alegria no louvor”.
A liberdade dos brasileiros surpreendeu Segunda. A relação entre pais e filhos e a relação entre professores e alunos chocou pela falta de hierarquia. “Em Angola temos o respeito baseado no medo. Escolhemos as palavras quando falamos com os pais”. O estilo de namoro brasileiro também surpreendeu pela falta de compromisso. Apesar disso, Segunda confessa que teve alguns relacionamentos no Brasil, mas não agüentou. “Os namorados angolanos costumam se ver somente nos fins de semana e aqui no Brasil ficam muito em cima! Tem que se ver o tempo inteiro e eu não tinha tempo”. Segunda está à procura de uma namorada. Diz que, se encontrar, vai levá-la para Angola por um período de dois meses de teste, para ver se ela se acostuma com a cultura diferente.
Durante os primeiros semestres, ele estagiou em agências bancárias e se apaixonou pela profissão. Quando voltar para seu país, um dos planos é seguir esta carreira. Seu trabalho de conclusão, inclusive, tem como tema o papel do crédito bancário na distribuição de renda. A ideia é baixar os juros e estimular a ascensão das camadas pobres da sociedade.
Esta noção de responsabilidade social, Segunda conta que só conheceu no Brasil. Na faculdade, ele mudou sua visão de sociedade e de futuro. “Em Angola, o pessoal luta para ser rico e depois abandona a comunidade em que nasceu. Negligencia o bairro e os amigos que tinha”. Ele admite que pensava em estudar no Brasil somente para construir uma boa carreira profissional, mas hoje as ambições são diferentes: “Não importa ter um bom emprego e ganhar rios de dinheiro, se ao teu lado tem gente que morre de fome”.
Segunda visitou a família em dezembro de 2007 e percebeu que Angola teve alguns avanços. Abriram novas faculdades particulares com preço mais acessível e o investimento de empresas estrangeiras está gerando mais empregos. No entanto, questões como saneamento básico continuam precárias e a marginalidade entre os jovens da periferia continua aumentando.
Frente a esta realidade, Segunda resolveu não ficar parado. Quando voltar para seu país, planeja montar um projeto social que recupere estes jovens: “Eles não têm previsão de melhora. Precisam de um modelo de pessoa em quem possam se inspirar. Alguém que sente com eles, converse, mostre que a vida não se baseia só no que eles vivem”.
O convênio com a Igreja Metodista cobre somente a graduação, e Segunda quer mais. Ele procura apoio para fazer doutorado e mestrado. O jovem que “tinha tudo para não dar certo”, como ele mesmo diz, está se formando em duas faculdades e tem sonhos do tamanho do mundo. Quer ser radialista, talvez professor, talvez montar uma Universidade, talvez trabalhar em um banco, talvez mudar um país.
Segunda Tavares é um angolano de 26 anos que veio ao Brasil em 2006 para realizar o sonho de cursar o Ensino Superior. A oportunidade surgiu de um convênio entre a Igreja Metodista de Angola e a do Brasil, que oferecia 12 vagas concorridas entre quatro mil estudantes. Durante três meses, Segunda participou do processo de seleção e foi aprovado para receber a bolsa. A partir de então, sua perspectiva de vida mudou.
Angola possui apenas uma universidade pública e dispõe de faculdades particulares que cobram dez vezes mais que o valor do salário mínimo angolano. Diante de tais condições, o acesso ao ensino superior se faz quase impossível à grande parcela da população que vive na pobreza. Segunda morava na periferia da capital de Angola, Luanda. Sua família migrou do interior para a cidade em função da guerra civil que castigou o país entre 1975 e 2002. Apesar de algumas divergências, ele milita no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), um dos partidos responsáveis pela independência do país. “A política de lá é complicada assim como a do Brasil. Mas eu ainda acredito. É impossível não participar da vida política do país”.
Segunda tem um irmão e duas irmãs. Todos estudam ou trabalham graças ao incentivo do pai, professor do ensino primário. Ele lembra que a condição das escolas que freqüentavam eram precárias, mas o pai sempre os encorajou a seguir em frente. Ele terminou o Ensino Médio e trabalhou como professor de química por três anos. A mãe é camponesa e cuida de um pequeno sítio, que em Angola, chama-se “lavra”.
No Brasil, Segunda tem moradia e alimentação garantidas na casa do estudante do Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (IPA). Apesar da paixão pela Enfermagem, ele estuda Administração e Ciências Contábeis, cursos com grande demanda de profissionais em Angola. Seus dias baseiam-se em freqüentar a faculdade de manhã e de noite, e estudar na parte da tarde. Além disso, faz um curso técnico para locutor de rádio e, nos fins de semana, joga futebol com africanos e brasileiros, vai à Igreja, e ao cinema quando sobram algumas economias.
Uma das coisas que o angolano mais estranhou no Brasil é a relação entre as pessoas. Para ele, os brasileiros são muito resguardados. Segunda conta que em Angola, a vida comunitária é bem mais forte. “A pessoa que mora ao teu lado é a primeira que vai te ajudar quando estiver em dificuldade. Fazemos isso com a maior naturalidade. Talvez pela extrema pobreza em que vivemos, aprendemos a conviver assim”.
Em terras brasileiras, seus maiores amigos são os colegas intercambistas e os membros da Associação dos Missionários da América do Sul. Ele passou a freqüentar esta Associação porque encontrou mais jovens do que na Igreja Metodista. “No Brasil as igrejas são vazias e têm poucos jovens. Em Angola existe mais irmandade, mais intensidade e alegria no louvor”.
A liberdade dos brasileiros surpreendeu Segunda. A relação entre pais e filhos e a relação entre professores e alunos chocou pela falta de hierarquia. “Em Angola temos o respeito baseado no medo. Escolhemos as palavras quando falamos com os pais”. O estilo de namoro brasileiro também surpreendeu pela falta de compromisso. Apesar disso, Segunda confessa que teve alguns relacionamentos no Brasil, mas não agüentou. “Os namorados angolanos costumam se ver somente nos fins de semana e aqui no Brasil ficam muito em cima! Tem que se ver o tempo inteiro e eu não tinha tempo”. Segunda está à procura de uma namorada. Diz que, se encontrar, vai levá-la para Angola por um período de dois meses de teste, para ver se ela se acostuma com a cultura diferente.
Durante os primeiros semestres, ele estagiou em agências bancárias e se apaixonou pela profissão. Quando voltar para seu país, um dos planos é seguir esta carreira. Seu trabalho de conclusão, inclusive, tem como tema o papel do crédito bancário na distribuição de renda. A ideia é baixar os juros e estimular a ascensão das camadas pobres da sociedade.
Esta noção de responsabilidade social, Segunda conta que só conheceu no Brasil. Na faculdade, ele mudou sua visão de sociedade e de futuro. “Em Angola, o pessoal luta para ser rico e depois abandona a comunidade em que nasceu. Negligencia o bairro e os amigos que tinha”. Ele admite que pensava em estudar no Brasil somente para construir uma boa carreira profissional, mas hoje as ambições são diferentes: “Não importa ter um bom emprego e ganhar rios de dinheiro, se ao teu lado tem gente que morre de fome”.
Segunda visitou a família em dezembro de 2007 e percebeu que Angola teve alguns avanços. Abriram novas faculdades particulares com preço mais acessível e o investimento de empresas estrangeiras está gerando mais empregos. No entanto, questões como saneamento básico continuam precárias e a marginalidade entre os jovens da periferia continua aumentando.
Frente a esta realidade, Segunda resolveu não ficar parado. Quando voltar para seu país, planeja montar um projeto social que recupere estes jovens: “Eles não têm previsão de melhora. Precisam de um modelo de pessoa em quem possam se inspirar. Alguém que sente com eles, converse, mostre que a vida não se baseia só no que eles vivem”.
O convênio com a Igreja Metodista cobre somente a graduação, e Segunda quer mais. Ele procura apoio para fazer doutorado e mestrado. O jovem que “tinha tudo para não dar certo”, como ele mesmo diz, está se formando em duas faculdades e tem sonhos do tamanho do mundo. Quer ser radialista, talvez professor, talvez montar uma Universidade, talvez trabalhar em um banco, talvez mudar um país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário