Olimpíadas de Pequim: o que o ocidente não mostra
Samir Oliveira
Há 2.500 anos, os gregos se reuniam para celebrar e honrar a Zeus na cidade de Olímpia. Esses encontros são os resquícios mais arcaicos das olimpíadas modernas. Agora, em 2008, o mundo está prestes a ver o maior espetáculo esportivo do planeta em solo vermelho. A China será o berço dos esportes entre 8 e 24 de agosto deste ano.
Para além das arenas, o país comunista-capitalista possui grandes desafios. O Tibet, região chinesa autônoma, aproveita a publicidade das iminentes olimpíadas para protestar. Mas a grande questão é: protestar o que? A mídia ocidental não cessa de divulgar imagens de monges espancados, violência e repressão às manifestações tibetanas. O motivo seria a liberdade. É tão simples assim? Não. O que a grande imprensa faz é menosprezar uma questão complexa sem se preocupar em fazer um aprofundamento histórico do tema.
“O Parcial”, empenhado em não reproduzir o discurso oficial da grande mídia, conversou com o professor de História Contemporânea e coordenador do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da UFRGS (Nerint), Luiz Dario Teixeira Ribeiro. Com o cachimbo em mãos, em seu pequeno escritório no Campus do Vale, Ribeiro comenta essa perspectiva míope da mídia. “A imagem que gravou é a que interessa, a primeira impressão é a que vai ficar. O resto, depois, é polêmica”.
Lei Simeng, intercambista chinesa que estuda na PUCRS, acredita que as reportagens devem “mostrar o que os monges faziam antes”. Ribeiro elucida melhor essa questão ao explicar que, até 1949, antes da vitória da revolução chinesa, “o Tibet era uma sociedade arcaica, feudo escravista e teocrático”. “As propriedades do Tibet estavam divididas entre a aristocracia e os mosteiros budistas, sendo que os mosteiros tinham entre 90% e 95% de todas as propriedades do país”, reitera o pesquisador, acrescentando que “a massa da população era constituída de servos e de escravos, então, a tentativa de reforma termina provocando descontentamento de determinados grupos sociais”.
A também intercambista chinesa, Tang Lijie, levanta a questão da teocracia. “Antigamente, a religião era poder lá. Agora, a situação mudou”, confessa a estudante. Que mudou, não há dúvidas. O comunismo chinês tenta, desde 1949, libertar os tibetanos de um regime teocrático governado pelos monges, tendo como expressão máxima a figura do Dalai Lama. Mas, teriam os tibetanos saído de um cárcere para trancafiar-se em outro? A própria Lijie expõe esse paradoxo: “Tu pode acreditar em alguma crença, mas, para trabalhar no governo, não pode falar que tu tem uma religião”.
É perceptível que a revolução chinesa tirou o Tibet do arcaísmo, mas pode tê-lo enclausurado em outros tipos de atraso e de opressão. A repressão aos protestos é violenta e extremamente condenável.Contudo, mais condenável ainda é a cobertura midiática do conflito, demonizando a China e endeusando os monges budistas. Reduz-se, assim, um grande emaranhado histórico a palavras como “liberdade” e “opressão”. No fim, quem sofre mesmo é o povo tibetano, que tem que se equilibrar entre os interesses de uma oligarquia religiosa que luta para reavivar seu antigo poderio, e um governo autoritário que não abre mão de seu projeto nacionalista.
Mercantilização do esporte
Sabe-se que, há muito tempo, os jogos olímpicos deixaram de vestir a toga do companheirismo e da união e representam a mais acirrada competição entre as nações. Luiz Dario Teixeira Ribeiro recorda que as olimpíadas “sempre tiveram um caráter político e de confronto”. Analisando a conjuntura, ele releva que os jogos de Pequim representam “um confronto entre uma superpotência num processo de crise (os Estados Unidos) – e um mundo ligado a essa superpotência – e uma potência emergente, que é a China”.
Questionado sobre a relação promíscua entre esporte-mídia-capital, Ribeiro é taxativo: “Nós vivemos numa sociedade capitalista. Desde a década de 70, essa sociedade tem apresentado uma característica fundamental, que é a transformação de tudo em mercadoria. As olimpíadas, para se adaptarem ao sistema, entraram na mercantilização.”
Para além das arenas, o país comunista-capitalista possui grandes desafios. O Tibet, região chinesa autônoma, aproveita a publicidade das iminentes olimpíadas para protestar. Mas a grande questão é: protestar o que? A mídia ocidental não cessa de divulgar imagens de monges espancados, violência e repressão às manifestações tibetanas. O motivo seria a liberdade. É tão simples assim? Não. O que a grande imprensa faz é menosprezar uma questão complexa sem se preocupar em fazer um aprofundamento histórico do tema.
“O Parcial”, empenhado em não reproduzir o discurso oficial da grande mídia, conversou com o professor de História Contemporânea e coordenador do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da UFRGS (Nerint), Luiz Dario Teixeira Ribeiro. Com o cachimbo em mãos, em seu pequeno escritório no Campus do Vale, Ribeiro comenta essa perspectiva míope da mídia. “A imagem que gravou é a que interessa, a primeira impressão é a que vai ficar. O resto, depois, é polêmica”.
Lei Simeng, intercambista chinesa que estuda na PUCRS, acredita que as reportagens devem “mostrar o que os monges faziam antes”. Ribeiro elucida melhor essa questão ao explicar que, até 1949, antes da vitória da revolução chinesa, “o Tibet era uma sociedade arcaica, feudo escravista e teocrático”. “As propriedades do Tibet estavam divididas entre a aristocracia e os mosteiros budistas, sendo que os mosteiros tinham entre 90% e 95% de todas as propriedades do país”, reitera o pesquisador, acrescentando que “a massa da população era constituída de servos e de escravos, então, a tentativa de reforma termina provocando descontentamento de determinados grupos sociais”.
A também intercambista chinesa, Tang Lijie, levanta a questão da teocracia. “Antigamente, a religião era poder lá. Agora, a situação mudou”, confessa a estudante. Que mudou, não há dúvidas. O comunismo chinês tenta, desde 1949, libertar os tibetanos de um regime teocrático governado pelos monges, tendo como expressão máxima a figura do Dalai Lama. Mas, teriam os tibetanos saído de um cárcere para trancafiar-se em outro? A própria Lijie expõe esse paradoxo: “Tu pode acreditar em alguma crença, mas, para trabalhar no governo, não pode falar que tu tem uma religião”.
É perceptível que a revolução chinesa tirou o Tibet do arcaísmo, mas pode tê-lo enclausurado em outros tipos de atraso e de opressão. A repressão aos protestos é violenta e extremamente condenável.Contudo, mais condenável ainda é a cobertura midiática do conflito, demonizando a China e endeusando os monges budistas. Reduz-se, assim, um grande emaranhado histórico a palavras como “liberdade” e “opressão”. No fim, quem sofre mesmo é o povo tibetano, que tem que se equilibrar entre os interesses de uma oligarquia religiosa que luta para reavivar seu antigo poderio, e um governo autoritário que não abre mão de seu projeto nacionalista.
Mercantilização do esporte
Sabe-se que, há muito tempo, os jogos olímpicos deixaram de vestir a toga do companheirismo e da união e representam a mais acirrada competição entre as nações. Luiz Dario Teixeira Ribeiro recorda que as olimpíadas “sempre tiveram um caráter político e de confronto”. Analisando a conjuntura, ele releva que os jogos de Pequim representam “um confronto entre uma superpotência num processo de crise (os Estados Unidos) – e um mundo ligado a essa superpotência – e uma potência emergente, que é a China”.
Questionado sobre a relação promíscua entre esporte-mídia-capital, Ribeiro é taxativo: “Nós vivemos numa sociedade capitalista. Desde a década de 70, essa sociedade tem apresentado uma característica fundamental, que é a transformação de tudo em mercadoria. As olimpíadas, para se adaptarem ao sistema, entraram na mercantilização.”
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