quarta-feira, 25 de junho de 2008

Guerra à Democracia


Mauricio Bosquerolli

Para conhecer a história e a verdade sobre ela é preciso falar o que não é dito e o que é mal dito. John Pilger, jornalista e documentarista australiano, procura fazer isso desde 1970. Ele já produziu filmes sobre o Vietnam, Palestina e Iraque. Esteve em zonas de conflito de forma clandestina, como no Timor Leste, para documentar versões diferentes daquelas conhecidas através do oficialismo e da grande mídia. Sua mais recente produção, Guerra à Democracia (2007) revela pontos obscuros da estratégia estadunidense para dominar a América Latina e reprimir qualquer tentativa de autodeterminação dos povos do continente. Por meio do resgate de fatos esquecidos e desconhecidos, Pilger demonstra as artimanhas usadas pela CIA para derrubar governos populares e exterminar milhares de pessoas. Em meio século de apoio a golpes militares, invasões e guerra midiática, os EUA derrotaram 50 governos em 40 países. Na América Latina foram 21. Guerra à democracia é um documento histórico. Depoimentos de torturados na Guatemala, Chile e El Salvador são argumentos irrefutáveis das violações aos Direitos Humanos que o governo ianque empreendeu. Pilger tem um estilo irônico. Apesar da tragicidade dos fatos abordados, há alguns trechos que produzem riso. Como na entrevista com o ex chefe da CIA para América Latina, Duane Clarridge, em que ele diz: “A única razão para que o Chile ainda exista é por Pinochet”. Ou quando ele refuta as evidentes dezenas de milhares de mortes na ditadura chilena. Porém a entrevista torna-se séria e assustadora quando Clarridge defende até mesmo a tortura e o assassinato quando se trata de questões de segurança nacional e interesses dos EUA. O documentário expressa com isso a constante ação militar e midiática com que o império rapina recursos naturais e controla as economias da região, via a imposição do Consenso de Whashington e do ideário dos “chicagoboys”. Pilger também quer mostrar a resistência que a América Latina vem protagonizando nos últimos anos. Uma entrevista com o presidente venezuelano Hugo Chávez intercala as cenas do filme. Pilger extrai daí declarações sobre o golpe de 2002 apoiado pela CIA e uma concepção diferente do que preconiza o Programa Nacional para Promoção da Democracia da Casa Branca, nome pomposo dado para substituir Ditaduras Militares. Guerra à Democracia é mais que um alerta, é uma convocação a intervir e defender a soberania e a justiça. Versões em inglês e espanhol podem ser encontradas disponíveis na rede.

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