quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cuba: a lição
Bruno Camilo e Mauricio Bosquerolli
No dia 24 de fevereiro, pela primeira vez em 49 anos, não foi Fidel o escolhido para comandar o país. Seu irmão, Raul Castro, foi eleito pela Assembléia Nacional do Poder Popular para um mandato de cinco anos. Afastado do cargo desde 31 de julho de 2006, por motivos de saúde, o líder da revolução de 59 não postulou seu nome. Democracia do poder popular Diferente do que a grande mídia e o imperialismo estadunidense sempre dizem, há muito mais democracia em Cuba do que nos países de capitalismo central e periférico. Lá o voto não é obrigatório, mesmo assim, a participação chegou a 95% nesse ano. Comparando com os EUA, onde o voto também é facultativo, o índice de votantes em 2004 não passou de 43%, e no Brasil, em que há obrigatoriedade, as eleições de 2006 registraram o comparecimento de 83% dos eleitores. Outra questão importante da democracia cubana refere-se às Assembléias do Poder Popular. Todas as decisões sobre os investimentos nas áreas sociais (saúde, habitação, educação etc) são tomadas pela população através de instâncias construídas nos bairros que passam para os níveis municipal, regional e federal. No Brasil e demais repúblicas do continente americano, a forma deliberativa contrasta com o modelo de Cuba. Aqui, os poderes executivo e legislativo definem a aplicação das verbas públicas e a sociedade não tem ingerência ou até mesmo conhecimento de como atuam os seus “representantes”.Plano econômico para o socialO modelo cubano de economia planificada é pensado para atender os interesses e necessidades da população. Os setores de serviços e produção não obedecem à lógica do mercado. Como a grande maioria das empresas pertencem ao Estado, não é o lucro que orienta a sua gestão e o preço dos produtos. A conseqüência do socialismo nesta área é a inexistência da fome, problemas habitacionais, de violência; assim como o acesso à educação e à saúde é gratuito, universal e de qualidade. Cuba é perfeita?Não. Na democracia cubana, a livre expressão tem muito a avançar, pois as formas em que o povo tem para expressar suas divergências contra o regime precisam ser aprimoradas. Dentro do Partido Comunista Cubano as discordâncias são livres e apenas algumas manifestações públicas são proibidas. O cerceamento de liberdades ocorre, principalmente, devido ao constante perigo de terroristas financiados pelos EUA em assassinar Fidel Castro e derrubar o socialismo.Cuba sofre um embargo comercial por parte dos EUA desde 1962 que proíbe os países, com raras exceções, de manterem relações econômicas com a ilha. Este ataque e o rompimento diplomático são uma resposta ao modelo socialista que ameaça o capitalismo. A população vive com poucos bens duráveis como eletrodomésticos, equipamentos de informática, telefonia, obrigando o Estado a manter uma permanente racionalização do consumo. Até 2005, o bloqueio levou a prejuízos superiores a 82 bilhões de dólares para o país caribenho. A ONU (Organização das Nações Unidas), por 16 vezes consecutivas, condenou o embargo em sua Assembléia Geral. Em 2007, a resolução foi aprovada por 184 países e apenas quatro rejeições (EUA, Palau, Israel e Ilhas Marshal). Integração X ImpérioEm 2004, Cuba e Venezuela criaram a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), com o objetivo de contraporem-se à ALCA (Area de Livre Comércio das Américas). A ALBA baseia-se em acordos de cooperação e solidariedade, excluindo a competição e fomentando a integração entre os povos do continente. A Venezuela passou a fornecer petróleo (diminuindo a crise energética cubana), em contrapartida, Cuba enviou médicos e professores à Venezuela. Atualmente, fazem parte da ALBA Bolívia, Nicarágua, Dominica, Venezuela e Cuba, com a possibilidade de entrada do Equador e São Vicente e Granadinas.As conquistas de um povoOs cubanos não passam fome, doentes cubanos não morrem nas filas dos hospitais ou a espera de tratamento, as crianças cubanas não estão fora da escola ou usando drogas nas ruas, o povo cubano não é refém da violência e da criminalidade, não há famílias cubanas morando em baixo da ponte. Cuba não é um exemplo a ser seguido, mas uma lição a ser aprendida. "Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana".

Fidel Castro

Nenhum comentário: